A análise histórica do desenvolvimento científico e tecnológico aponta que a ruptura de um status-quo vigente é fruto da confluência simultânea de condicionantes tecnológicos, econômicos, culturais e sociais. Na década atual, parece haver as condições necessárias para que a informática e tecnologias associadas alterem o processo educacional, dados à difusão das redes de comunicação, aos avanços na tecnologia de hipertexto e à urgência econômica e social pela ampliação das oportunidades educacionais. Um dos cenários educacionais emergentes combina o uso das redes de computadores e a aprendizagem cooperativa distribuída [Santos, 1996].
No entanto, este novo cenário passou a requerer que profissionais de educação repensassem suas práticas pedagógicas e a própria escola. Lucena [1997] apresenta a possibilidade de construção de uma escola aberta no contexto do Projeto Kidlink-Brasil, através do uso intensivo das tecnologias de redes, entre elas aquelas tecnologias que apoiam a aprendizagem cooperativa distribuída.
Um dos espaços para aprendizagem cooperativa distribuída no Projeto Kidlink-Brasil está inserido nos Projetos Kidlink, ali se encontra os locais de Aprendizagem Cooperativa à Distância..
No final de 1970, usando tecnologias variadas, surge o projeto ARPA (Advanced Research Projects Agency), visando resolver os problemas de incompatibilidade das redes. O principal aspecto das pesquisas do ARPA era um enfoque novo para interconectar LANs e WANs, que se tornou conhecido como internetwork ou Internet [Comer, 1994].
A partir
de meados de 80, a Internet é, de forma crescente, um conjunto de
redes de computadores que interligam milhões de computadores, se
tornando um espaço enorme de troca de informações
e comunicação.
Este
avanço tecnológico foi, e está sendo, fruto de demandas
sociais e dos setores produtivos. pois os problemas e desafios do mundo
moderno apresentam tais dimensões e complexidade que sua solução
envolve cada vez o trabalho em equipe. Hoje, serviços e produtos
para o suporte a trabalho cooperativo encontram-se em plena expansão.
O emprego de métodos e ferramentas para o trabalho cooperativo chegou
também à esfera educacional, sendo usual ouvirmos atualmente
as expressões trabalho cooperativo em educação, aprendizagem
colaborativa, aprendizagem cooperativa, como termos correntes e significando
atividades similares. Recentemente, surgiu o termo aprendizagem cooperativa
distribuída. Para clarificar a proposta de aprendizagem cooperativa
distribuída na Kidlink-Brasil, definimos, a seguir sucintamente
trabalho cooperativo, aprendizagem cooperativa e aprendizagem cooperativa
distribuída.
A aprendizagem cooperativa independe do uso das novas tecnologias, exigindo basicamente uma postura pedagógica inovadora e sem preconceitos. Mas, a popularização e potencialidades das redes de comunicação estão forjando um espaço para que a aprendizagem cooperativa ocorra nos limites das salas de aula e fora deles. A Internet fornece serviços cada vez mais estáveis, seguros e amigáveis para a criação de ambientes virtuais de aprendizagem cooperativa distribuída, onde alunos e professores cooperam entre si, sem as limitações de barreiras geográficas e de tempo.
A seguir, é apresentado, de forma breve, o referencial teórico que sustenta o uso da cooperação distribuída na prática educacional.
3. Fundamentos Educacionais da Aprendizagem Cooperativa
Educar tradicionalmente centrava-se no ato de ensinar. As demandas do mundo moderno aliadas à popularização de novas tecnologias da informação, vêm tornando o ato de educar em disponibilizar ferramentas orientadas para o ato de aprender. Autonomia na aquisição do conhecimento e cooperação na resolução de problemas são dimensões integradas ao binômio educar-aprender. Estamos nos desprendendo de práticas pedagógicas instrumentais de cunho comportamentalista e lançando mão de práticas construtivistas e pós-construtivistas.
Os serviços de aprendizagem cooperativa distribuída na Biblioteca Kidlink, acompanhando a noção de escola aberta do Projeto Kidlink-Brasil, busca inspiração em Vygotsky. Vygotsky [1989] propõe o interacionismo, também chamado de Construtivismo Sócio-Interacionista ou ainda Construtivismo Histórico Social. O interacionismo é baseado em visão de desenvolvimento apoiada na concepção de um organismo ativo, onde o pensamento é construído gradativamente num ambiente histórico e, em essência, social [Giraffa, 1995]. O ponto central das pesquisas de Vygotsky repousa no reconhecimento de que a interação social possui um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo. Vygotsky considera que toda a função no desenvolvimento cultural de uma criança aparece primeiro no nível social, entre pessoas, e depois no nível individual, dentro próprio sujeito.
Vygotsky
identifica três estágios de desenvolvimento na criança
e que podem ser estendidos a qualquer aprendiz:
A interação entre os sujeitos é fundamental para desenvolvimento pessoal e social, pois a interação busca transformar a realidade de cada sujeito, mediante um sistema de trocas com "o par mais capaz" e do conceito "zonas proximais de desenvolvimento" [Vygotsky, 1989]. Através das diferenças individuais, a aprendizagem cooperativa vai sendo edificada, a partir da reflexão e da construção social do conhecimento sustentadas pela interação dos indivíduos envolvidos.
Referências
Santos,
Neide & Ferreira, Heloísa. Aprendizagem Cooperativa Distribuída
na Biblioteca Kidlink-Brasil. Rev. Bras. de Informática na Educação.
Ano 1, no 2, Junho 1998.
Vygotsky,
Lev S. A formação Social da Mente. São
Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 1989.