A educação na era da informação

Aluísio Pimenta*

As sociedades humanas assistiram a quatro diferentes revoluções no caráter dos intercâmbios sociais: revolução no falar, no escrever, no imprimir e na informática. Informática é um neologismo francês que tende a reunir na expressão o processo de informação através dos computadores.

As novas ferramentas de comunicação geradas pela informática expandiram-se tão rapidamente e provocaram progressos tão espetaculares que, no dizer do filósofo e professor de Administração Peter Drucker, "o conhecimento tornou-se a principal indústria, a indústria que proporciona à economia a matéria-prima essencial e central de produção".

De fato, hoje, cerca de metade da força de trabalho nos Estados Unidos e também metade do seu Produto Nacional Bruto correspondem às chamadas indústrias de informação, tais como telecomunicações, processamento de dados, publicação e educação em geral.

Pela enorme influência que as novas tecnologias da comunicação e entre elas a computação passaram a exercer na área de educação é que temos que tratar esta questão de maneira consciente e responsável.

Há consenso entre os atuais educadores, administradores e outros estudiosos do assunto que a educação, no século 21, será totalmente diversa: ensino e aprendizagem serão diferentes. O ensino será mais individualizado, as novas tecnologias da comunicação estarão muito presentes - valorizando ainda mais os livros como instrumento de apoio e reflexão.

O conceito de educação permanente ter-se-á firmado definitivamente. Todos os membros da sociedade, no final do século 20 e no limiar do século 21, incluindo-se os operários das fábricas, os trabalhadores da construção civil, os empregados dos setores de serviço, empregadas domésticas (se ainda houver...), garçons, choferes e faxineiros serão verdadeiros párias sociais, na era da comunicação, se não lhes for dado acesso ao treinamento de habilidades básicas para:

É dentro das perspectivas ora comentadas que surgem dois importantes pontos de discussão: a educação para a era da informática e a educação pela informática.

A primeira talvez seja o ponto mais importante para os países em desenvolvimento. É preciso desenvolver programas de educação e treinamento que permitam aos vários extratos da sociedade tomarem conhecimento das novas tecnologias e saber utilizá-las sem frustrações e, ademais, impedir que essas novas técnicas nos dominem e escravizem em lugar de libertar-nos. Os pais de família devem estar conscientes de que, apesar dos perigos dos joguinhos eletrônicos, a informática é um grande benefício à educação de seus filhos. É importante divulgar entre escritores, artistas e professores as novas técnicas e incentivá-los a produzir programas de muito boa qualidade e que interessem às crianças, como os joguinhos estrangeiros, distantes da nossa realidade histórico cultural. A utilização de figuras de nossa fauna, de nossa flora e de nossa manifestação artística é fundamental para o desenvolvimento correto do uso das máquinas modernas.


É necessário desmistificar o computador. Qualquer pessoa pode operar um computador como se utiliza um automóvel, mesmo sem um conhecimento específico em mecânica.

Outro fator indispensável é a união entre técnicos, professores, principalmente das escolas primárias, e o próprio Estado. Assim, o conhecimento democratizado se aproximará de um número mais representativo de estudantes.

Em países desenvolvidos como França e Estados Unidos o uso da informática no ensino formal tem se desenvolvido com considerável sucesso. No entanto, tal alternativa deve ser discutida com certo rigor quando se trata de um país em desenvolvimento. É importante considerar o alto custo do equipamento, sua manutenção e a contratação de profissionais indispensáveis para o seu bom aproveitamento. Enquanto a maioria das escolas públicas de ensino fundamental não apresenta nem mesmo uma organização que garanta comodidade para todos os alunos, esses gastos parecem estar longe de se tornarem uma prioridade.

Longe de querer transformar o "hommo sapiens" em um "hommo informatus", as novas tecnologias podem e devem ser utilizadas no sentido da correção de nossas distorções sociais e na promoção de uma maior participação dos cidadãos brasileiros na vida pública do país. Essa democratização requer um preparo prévio na formação de pessoal, no apoio do poder público para que todos conheçam as tecnologias, a fim de que a informática consolide nossa nacionalidade e a nossa cultura.

* Ex-ministro da Cultura e atual reitor da Universidade do Estado de Minas Gerais.