As linguagens da TV e do vídeo respondem à sensibilidade dos jovens e da grande maioria da população adulta. São dinâmicas, dirigem-se antes à afetividade do que à razão. O jovem lê o que pode visualizar, precisa ver para compreender. Toda a sua fala é mais sensorial-visual do que racional e abstrata. Lê, vendo.
A linguagem audiovisual desenvolve múltiplas atitudes perceptivas: solicita constantemente a imaginação e reinveste a afetividade com um papel de mediação primordial no mundo, enquanto que a linguagem escrita desenvolve mais o rigor, a organização, a abstração e a análise lógica.
PROPOSTAS DE USO DO VÍDEO
Proponho, a seguir, um roteiro simplificado e esquemático com algumas formas de trabalhar com o vídeo na sala de aula. Como roteiro não há uma ordem rigorosa e pressupõe total liberdade de adaptação destas propostas à realidade de cada professor e dos seus alunos.
USOS INADEQUADOS EM AULA
Os vídeos que apresentam conceitos problem ticos podem ser usados para descobri-los,junto com os alunos, e questioná -los.
Só vídeo: não é satisfatório didaticamente exibir o vídeo sem discuti-lo, sem integr -lo com o assunto de aula, sem voltar e mostrar alguns momentos mais importantes.
PROPOSTAS DE UTILIZAÇÃO
Vídeo como SENSIBILIZAÇÃO
É, do meu ponto de vista, o uso mais importante na escola. Um bom vídeo é interessantíssimo para introduzir um novo asunto, para despertar a curiosidade, a motivação para novos temas. Isso facilitará o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da matéria.
Vídeo como ILUSTRAÇÃO
O vídeo muitas vezes ajuda a mostrar o que se fala em aula, a compor cenários desconhecidos dos alunos. Por exemplo, um vídeo que exemplifica como eram os romanos na época de Julio Cesar ou Nero, mesmo que não seja totalmente fiel, ajuda a situar os alunos no tempo histórico. Um vídeo traz para a sala de aula realidades distantes dos alunos, como por exemplo a Amazônia ou a África. A vida se aproxima da escola através do vídeo.
Vídeo como SIMULAÇÃO
É uma ilustração mais sofisticada. O vídeo pode simular experiências de química que seriam perigosas em laboratório ou que exigiriam muito tempo e recursos. Um vídeo pode mostrar o crescimento acelerado de uma planta, de uma árvore -da semente até a maturidade- em poucos segundos
Vídeo como CONTEÚDO DE ENSINO
Vídeo que mostra determinado assunto, de forma direta ou indireta. De forma direta, quando informa sobre um tema específico orientando a sua interpretação. De forma indireta, quando mostra um tema, permitindo abordagens múltiplas, interdisplinares.
Vídeo como PRODUÇÃO
- Como documentação, registro de eventos, de aulas, de estudos do meio, de
experiências, de entrevistas, depoimentos. Isto facilita o trabalho do
professor, dos alunos e dos futuros alunos. O professor deve poder
documentar o que é mais importante para o seu trabalho, ter o seu próprio
material de vídeo assim como tem os seus livros e apostilas para preparar
as suas aulas. O professor estará atento para gravar o material audiovisual
mais utilizado, para não depender sempre doempréstimo ou aluguel dos
mesmos programas.
- Como intervenção: interferir, modificar um determinado programa, um
material audiovisual, acrescentanto uma nova trilha sonora ou editando o
material de forma compacta ou introduzindo novas cenas com novos
significados.
O professor precisa perder o medo, o respeito ao vídeo assim como ele
interfere num texto escrito, modificando-o, acrescentando novos dados,
novas interpretações, contextos mais próximos do aluno.
- Vídeo como expressão, como nova forma de comunicação, adaptada à
sensibilidade principalmente das crianças e dos jovens. As crianças adoram
fazer vídeo e a escola precisa incentivar o m ximo posível a produção de
pesquisas em vídeo pelos alunos. A produção em vídeo tem uma dimensão
moderna, lúdica. Moderna, como um meio contemporâneo, novo e que integra
linguagens. Lúdica, pela miniaturização da câmera, que permite brincar com a
realidade, levá-la junto para qualquer lugar. Filmar é uma das experiências
mais envolventes tanto para as crianças como para os adultos.
Os alunos podem ser incentivados a produzir dentro de uma determinada
matéria, ou dentro de um trabalho interdisciplinar. E também produzir
programas informativos, feitos por eles mesmos e colocá -los em lugares
visíveis dentro da escola e em hor rios onde muitas crianças possam
assisti-los.
Vídeo como AVALIAÇÃO
Dos alunos, do professor, do processo.
Vídeo espelho
Vejo-me na tela para poder compreender-me, para descobrir meu corpo, meus gestos, meus cacoetes. Vídeo-espelho para análise do grupo e dos papéis de cada um, para acompanhar o comportamento de cada um, do ponto de vista participativo, para incentivar os mais retraídos e pedir aos que falam muito para darem mais espaço aos colegas.
O vídeo-espelho é de grande utilidade para o professor se ver, examinar sua comunicação com os alunos, suas qualidades e defeitos.
Vídeo como INTEGRAÇÃO/SUPORTE
De outras mídias.
- Vídeo como suporte da televisão e do cinema. Gravar em vídeo programas.
importantes da televisão para utilização em aula. Alugar ou comprar filmes
de longa metragem, documentários para ampliar o conhecimento de cinema,
iniciar os alunos na linguagem audiovisual.
- Vídeo interagindo com outras mídias como o computador, o videodisco,
o CD-ROM, o CD-I (Compact-Disk Interactive), com os videogames,
com o telefone (videofone). O videofone, cujo custo atual está por volta
de quinhentos dólares, possibilita interligar, com imagem e som, professores
com colegas de outras escolas e com grupos de alunos, abrindo as salas de
aula para novos intercâmbios pedagógicos e comunicacionais.
COMO VER O VÍDEO
Antes da exibição
. Informar somente aspectos gerais do vídeo (autor, duração,
prêmios...).
Não interpretar antes da exibição, não pré-julgar (para que cada um possa
fazer a sua leitura).
. Checar o vídeo antes. Conhecê-lo. Ver a qualidade da cópia.
Deixá-lo no ponto antes da exibição. Zerar a numeração (apertar a tecla
resset). Apertar também a tecla "memory" para voltar ao ponto desejado.
Checar o som (volume), o canal de exibição (3 ou 4), o tracking
(a regulagem de gravação), o sistema (NTSC ou PAL-M).
Durante a exibição
. Anotar as cenas mais importantes.
. Se for necessário (para regulagem ou fazer um rápido comentário)
apertar o pause ou still, sem demorar muito nele, porque danifica a fita.
. Observar as reações do grupo.
Depois da exibição
. Voltar a fita ao começo (resset/memory)
. Re-ver as cenas mais importantes ou difíceis. Se o vídeo é
complexo, exibi-lo uma segunda vez, chamando a atenção para determinadas
cenas, para a trilha musical, diálogos, situações.
. Passar quadro a quadro as imagens mais significativas.
. Observar o som, a música, os efeitos, as frases mais importantes.
Proponho alguns caminhos -entre muitos possíveis- para a análise
do vídeo em classe.
DINÂMICAS DE ANÁLISE
Leitura em conjunte
O professor exibe as cenas mais importantes e as comenta junto com os alunos, a partir do que estes destacam ou perguntam. É uma conversa sobre o vídeo, com o professor como moderador.
O professor não deve se o primeiro a dar a sua opinião, principalmente em matérias controvertidas, nem monopolizar a discussão, mas tampouco deve ficar encima do muro. Deve posicionar-se, depois dos alunos, trabalhando sempre dois planos: o ideal e o real; o que deveria ser (modelo ideal) e o que costuma ser (modelo real).
Leitura globalizante
Fazer, depois da exibição, estas quatro perguntas:
- Aspectos positivos do vídeo
- Aspectos negativos
- Idéias principais que passa
- O que vocês mudariam neste vídeo
Se houver tempo, essas perguntas serão respondidas primeiro em
grupos menores e depois relatadas/escritas no plenário. O professor e os
alunos destacam as coincidências e divergências. O professor faz a síntese
final, devolvendo ao grupo as leituras predominantes (onde se expressam
valores, que mostram como o grupo é).
Leitura Concentrada
Escolher, depois da exibição, uma ou das cenas marcantes. Revê-las
uma ou mais vezes.
Perguntar (oralmente o por escrito):
- O que chama mais a atenção (imagem/som/palavra)
- O que dizem as cenas (significados)
- Consequências, aplicações (para a nossa vida, para o grupo).
Leitura "funcional"
Antes da exibição, escolher algumas funções ou tarefas
(desenvolvidas por vários alunos):
- o contador de cenas (descrição
sumária, por um ou mais alunos)
- anotar as palavras-chave
- anotar as imagens mais significativas
- caracterização dos personagens
- música e efeitos
- mudanças acontecidas no vídeo (do começo até o final).
Depois da exibição, cada aluno fala e o resultado é colocado no quadro negro ou flanelógrafo. A partir do quadro, o professor completa com os alunos as informações, relaciona os dados, questiona as soluções apresentadas.
ANÁLISE DA LINGUAGEM
- Que estória é contada (reconstrução da estória)
- Como é contada essa estória
. o que lhe chamou a atenção visualmente
. o que destacaria nos diálogos e na música
- Que idéias passa claramente o programa (o que diz claramente esta estória)
. O que contam e representam os personagens
. Modelo de sociedade apresentado
- Ideologia do programa
. Mensagens não questionadas (pressupostos ou hipóteses aceitos
de antemão, sem discussão).
. Valores afirmados e negados pelo programa (como são
apresentados a justiça, o trabalho, o amor, o mundo)
. Como cada participante julga esses valores (concordâncias
e discordâncias nos sistemas de valores envolvidos). A partir de onde cada
um de nós julga a estória.
COMPLETAR O VÍDEO
. Exibe-se um vídeo até um determinado ponto.
. Os alunos desenvolvem, em grupos, um final próprio e justificam o porquê
da escolha.
. Exibe-se o final do vídeo
. Comparam-se os finais propostos e o professor manifesta também a
sua opinião.
MODIFICAR O VÍDEO
. Os alunos procuram vídeos e outros materiais audiovisuais sobre um
determinado assunto.
. Modificam, adaptam, editam, narram, sonorizam diferentemente.
Criam um novo material adaptado a sua realidade, a sua sensibilidade.
VÍDEO PRODUÇÃO
. Contar em vídeo um determinado assunto
. Pesquisa em jornais, revistas, entrevistas com pessoas.
. Elaboração do roteiro, gravação, edição, sonorização.
. Exibição em classe e/ou em circuito interno.
. Comentários positivos e negativos. A diferença entre a intenção e o
resultado obtido.
VÍDEO ESPELHO
A câmera registra pessoas ou grupos e depois se observa o resultado
com comentários de cada um sobre seu desempenho e sobre o dos outros.
O professor olha seu desempenho, comenta e ouve os comentários
dos outros.
Outras dinâmicas interessantes:
- Dramatizar situações importantes do vídeo assistido e discuti-las comparativamente. Usar a representação, o teatro como meio de expressão do que o vídeo mostrou, adaptando-o à realidade dos alunos.
Um exemplo:
alguns alunos escolhem personagens de um vídeo e os representam
adaptando-os a sua realidade. Depois comparam-se os personagens do
vídeo e os da representação, a estória do vídeo com a adaptada pelos alunos.
- Adaptar o vídeo ao grupo: Contar -oralmente, por escrito ou
audiovisualmente- situações nossas próximas às mostradas no vídeo.
- Desenhar uma tela de televisão e colocar o que mais impressionou
os alunos. O professor exibe num mural os desenhos e todos comentarão as
coincidências principais e o seu significado.
- Comparar - principalmente em aulas de literatura portuguesa ou
estrangeira- um vídeo baseado em uma obra literária com o texto original.
Destacar os pontos fortes e fracos do livro e da adaptação audiovisual.
A INFORMAÇÃO NA TV E NO VÍDEO
Um dos campos mais interessantes de utilização do vídeo para
compreender a televisão na sala de aula é o da análise da informação, para
ajudar professores e alunos a perceber melhor as possibilidades e limites da
televisão e do jornal como meio informativo.
O professor pode propor inicialmente algumas questões gerais
sobre a informação para serem discutidas em pequenos grupos e depois
no plenário.
* Como eu me informo.
* Que telejornal prefiro e porquê.
* O que não gosto deste telejornal e gostaria de mudar.
* Que semelhanças e diferenças percebo nos vários telejornais.
* Que análise faço dos dois principais jornais impressos.
Pode-se fazer uma análise específica de um programa informativo
da televisão (por exemplo, do Jornal Nacional) e de dois jornais impressos
do dia seguinte. O professor pede a um dos alunos que anote a sequência
das notícias do telejornal e, a outro, que conometre a duração de cada
notícia.
Depois da exibição, o professor pede que os alunos se dividam em grupos
e que alguns analisem o telejornal e pelo menos dois analisem os jornais
impressos (cada grupo um jornal).
Questões para análise do telejornal
* Que notícias chamaram mais a sua atenção (notícias que
sensibilizaram mais,que marcaram mais). Por que.
* Que notícias são mais importantes para cada um ou para o grupo.
Por que.
* O que cosiderou positivo nesta edição do telejornal (técnicas,
tratamento de algumas matérias, interpretação...)
* De que discorda neste telejornal (de algumas notícias em
particular ou em geral).
Questões para análise do jornal impresso
* Notícias mais importantes para o jornal (quais são as mais
importantes da primeira página). Que enfoque é dado.
* Que notícias coincidem com o telejornal (a coincidência é total
ou há diferenças de interpretação?)
* Que notícias são diferentes do telejornal (notícias que o telejornal
anterior naõ divulgou).
* Qual é a opinião do jornal nesse dia (análise dos editoriais, das
matérias, que normalmente estão na segunda ou terceira página e não estão
assinadas).
O professor pode reconstruir a sequência das notícias por escrito na frente
do plenário e pede ao cronometrista que anote a duração de cada matéria.
Cada grupo coloca no plenário as respostas à primeira questão. O
professor procura reconstruir com todos os alunos as notícias mais
importantes para a emissora e para o jornal impresso. Vê as coincidências e
as discrepâncias. Convém analisar a notícia mais importante com calma,
exibindo-a de novo, observando a estrutura, as técnicas utilizadas, as
palavras-chave, a interpretação. E assim vão respondendo às outras três
questões, sempre confrontando a informação da televisão com a do jornal
impresso, observando as omissões mais importantes.
Com esta análise não se chega a uma visão de conjunto, mas se percebe a
parcialidade na seleção das notícias, na ênfase dada, na relativização da
informação, na espetacularização da televisão como uma das armas importantes
para atrair o telespectador.
A Informação a partir da Produção
A análise também pode partir de uma dinâmica que utiliza a produção de um jornal pelo grupo utilizando o mesmo material informativo prévio. O coordenador grava um ou dois telejornais da mesma noite e adquire alguns exemplares de dois ou três jornais impressos do dia seguinte. Os grupos recebem os mesmos jornais impressos. Cada grupo elaborará um noticiário radiofônico, de cinco minutos, a partir dos jornais, seguindo a ordem que achar mais conveniente.
Cada grupo grava o seu noticiário ou o lê como se fôsse ao vivo. Pede-se a alguns participantes que anotem a sequência das notícias, a sua duração e as