Sub-projeto: A Percepção na Construção do Conhecimento em Ambiente de Realidade Virtual
Responsável: Eny Maria Moraes Schuch - IA e PGIE/ UFRGS
Cleci Maraschin - Instituto de Psicologia e PGIE/ UFRGS
 

Foco específico da pesquisa

As atividades perceptivas no Ambiente de Realidade Virtual Cooperativo de Aprendizagem (ARCA) relacionadas à construção do conhecimento.
 

Objetivos Específicos

Referencial Teórico

A utilização da realidade virtual exige uma visão mais ampla do processo perceptivo na construção do conhecimento, visto que o sujeito passa a estabelecer relações entre o seu meio concreto e a realidade virtual intermediada pelo computador. Propõe-se que a teoria psicogenética possa oferecer recursos conceituais interessantes a este estudo.

Ao contrário do empirismo, Piaget não considera o conhecimento como uma cópia da realidade, não creditando, portanto, unicamente à percepção a origem da inteligência. A percepção é entendida como uma forma da atividade sensório-motora, caracterizando-se pela dependência do aspecto figurativo do conhecimento do real, enquanto que a ação em geral, e particularmente a sensório-motora, é operativa e transformadora desse mesmo real.

O trabalho de Piaget sobre a percepção apresenta duas grandes divisões: a teoria da percepção – que determina um modelo probabilístico de como funciona a percepção a partir de elementos estímulos – e a teoria sobre a percepção – que é uma visão geral sobre a percepção e seu desenvolvimento, fundamentalmente sobre a sua relação com a inteligência. FLAVELL esclarece:

" Para Piaget la percepción es un tipo particular de acto o proceso adaptativo que sólo puede comprender-se en relación com la clase más amplia de actos o procesos a los que llama inteligencia. La teoría relativa a la percepción, entonces, es una teoría acerca de cómo son las estructuras perceptuales, en relación con las estructuras intelectuales, de dónde y cuándo se originam, en relación con los orígenes de la inteligencia, y de como se desarrollan y combian, en relación y en interacción con el desarrollo intelectual." (s/d p. 245) A percepção envolve um pouco mais que a simples sensação, contudo não compreende juízos, inferências, classificações e reorganizações. No processo de adaptação, a percepção está subordinada, tanto evolutivamente quanto estruturalmente, à inteligência.

PIAGET usa o conceito isomorfismo parcial para mostrar a semelhança entre a percepção e a inteligência no sentido da primeira sempre trazer indícios elementares das futuras elaborações conceituais da segunda, sendo aquela necessária, talvez até como causal, mas apenas primária no sentido de apresentar os elementos primordiais dos quais se valerá a inteligência para a construção de novos conceitos, sempre reversíveis em sua formulação final – a percepção é tida como semi-reversível pois atinge apenas um equilíbrio relativo.

Assim, para Piaget, a percepção é mais quantitativa do que qualitativa em relação à inteligência. Ela está mais associada à aparência do mundo concreto, com suas contínuas transformações. A percepção é uma forma de acomodação, numa aplicação prática dos esquemas da inteligência. FURTH pondera:

"A atividade acomodativa transforma o organismo segundo as características particulares do input. Quando este input, como é o caso da percepção, consiste em dados sensoriais, faz parte da atividade acomodativa ajustar-se à configuração particular dos dados. Pode-se observar literalmente esta correspondência com o estado externo na acomodação dos órgãos dos sentidos, como, por exemplo, na adaptação do olho às diversas características visuais de um objeto visto, a sua distância, luminosidade e forma." (s/d, p. 161)

 

A construção do conhecimento se dá numa relação de interação entre o sujeito e a realidade que o circunda, sendo elaborado no processo de assimilação/acomodação que se vale tanto da percepção – como dado primário, mas não único e independente – quanto das operações conceituais anteriores que forjaram a capacidade perceptiva do momento, viabilizando as contínuas formulações/reformulações do pensamento conceitual. A questão principal que sustenta esta investigação é se e como a interação com o Ambiente de Realidade Virtual Cooperativo de Aprendizagem modificará as atividades perceptivas dos sujeitos envolvidos.

 
Metodologia de Trabalho

Os procedimentos metodológicos para a coleta de dados sobre as atividades perceptivas no Ambiente de Realidade Virtual Cooperativo de Aprendizagem seguirão as etapas listadas abaixo:

• Primeiramente, algumas seqüências de imagens em realidade virtual serão construídas com diferentes graus de realismo para testes preliminares para referência ao software piloto, sendo aplicados questionários e realizadas entrevistas após a exploração das situações propostas aos usuários;

• A finalização do software piloto, permitirá a realização de entrevistas semi-estruturadas, gravadas, com os usuários da área de engenharia de alimentos antes e após o teste de uso, centrando nas atividades perceptivas;

• Análise das inferências, colaborações, interações e dúvidas do usuário, que forem registradas pelo software auxiliar de uso, durante a exploração /teste, focalizando a percepção e suas relações com a cognição;

• Filmagem dos usuários durante a vivência do software piloto, com posterior análise dos dados, como mais um elemento de confirmação/descarte dos indícios e/ou conclusões a respeito da percepção na construção do conhecimento em ambiente de realidade virtual.

Recursos Necessários

1 bolsista DTI, para a transcrição e tabulação das entrevistas realizadas com os alunos de teste, antes e após o uso do Ambiente Imersivo criado.

1 gravador para as entrevistas.

3 computadores para a realização da pesquisa.

1 óculos de realidade virtual para teste do ambiente criado. (U$ 1500)

1 luva para interação em realidade virtual para teste do ambiente criado. (U$ 600)

1 filmadora digital para gravar a reação dos alunos de teste.

Material de consumo como fitas cassete, disquetes, folhas, cartuchos para impressora.

Material bibliográfico.

1 software True space 4.1 para criação de ambientes de realidade virtual. (U$ 595)

1 software Cosmo Worlds 2.0  para treinamento de uso dos equipamentos específicos de realidade virtual. (U$ 599)

 

Resultado Esperado

Com esta pesquisa pretende-se ampliar o conhecimento teórico sobre as atividades perceptivas em ambientes virtuais, bem como estabelecer um levantamento teórico-prático de referência sobre a percepção para a criação de ambientes de realidade virtual aplicados ao processo de ensino-aprendizagem, sob a teoria piagetiana.

 

Bibliografia Consultada

FLAVELL, John H. La Psicología Evolutiva de Jean Piaget. Buenos Aires: Paidós, s/d.

FURTH, Hans G. Piaget e o Conhecimento: fundamentos teóricos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, s/d.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Merleau-Ponty na Sorbonne: resumo de cursos psicossociologia e filosofia. Campinas: Papirus, 1990a.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Merleau-Ponty na Sorbonne: resumo de cursos filosofia e linguagem. Campinas: Papirus, 1990b.

PIAGET, Jean. & INHELDER, Barbel. A Psicologia da Criança. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil. 1995.

PIAGET, Jean. Epistemologia Genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

PIAGET, Jean. A Psicologia da Inteligência. Lisboa: Editora Fundo da Cultura, 1967.