Análise operatória de um ambiente imersivo de ensino-aprendizagem colaborativa
Patricia Alejandra Behar
Departamento de Estudos Especializados
Faculdade de Educação
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Explicação do tema:

Esta atividade dentro do projeto de pesquisa aborda uma área de conhecimento interdisciplinar, fazendo a integração da Teoria Piagetiana com a Ciência da Computação, mais especificamente, a
utilização da lógica operatória piagetiana para analisar um ambiente imersivo de ensino-aprendizagem colaborativo, do ponto de vista das operações lógicas e/ou infralógicas tanto do ambiente quanto do sujeito em interação com o mesmo.

Objetivo da pesquisa:

O objetivo desta parte do projeto de pesquisa é análise lógico-operatória de um ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa. Portanto, trata-se da aplicação da teoria piagetiana em relação aos sistemas computacionais, mas não só em relação a análise de ferramentas computacionais do ponto de vista das operações lógicas e/ou infralógicas, diretas e/ou indiretas, mas levando em conta também o conjunto destas operações (sistema de operações), isto é, os agrupamentos de classes e/ou relações e/ou o grupo INRC.

Idéias principais que vão direcionar a pesquisa:

As máquinas de produção simbólica (semiótica) trazem uma novidade em relação às máquinas em geral: elas não produzem apenas uma "obra". Os ambientes computacionais constituem-se em campos de possibilidades de nascimento, existência e de transformação de novos objetos. Por isso são denominados de ferramentas. Essa potencialização coloca problemas a diferentes áreas de conhecimento, que se sentem convocadas tanto a emprestar modelos teóricos, quanto a, reciprocamente, sofrerem perturbações e questionamentos mediante a operacionalização de alguns de seus modelos. Portanto, neste projeto, trabalhar interdisciplinarmente, significa buscar na teoria psicogenética de Jean Piaget, conceitos e modelos, redefinindo e testando-os dentro da perspectiva da  Ciência da Computação.
A chamada Lógica Operatória é um modelo desenvolvido por Jean Piaget para o estudo das relações entre os níveis de explicação que o sujeito, em sua vivência cognitiva, estabelece sobre os fenômenos do mundo físico e social em que vive. Neste projeto de pesquisa uma das atividades a serem desenvolvidas é a utilização da lógica operatória pela ciência da computação, como meio de definir as principais estruturas de funcionamento de diversos aplicativos de uso colaborativo, sob um ponto de vista baseado na forma cognitiva e simbólica do processamento de informações.
As principais questões a serem respondidas neste estudo são: como e porquê estender um modelo de análise operatória advindo da teoria piagetiana para analisar um ambiente de realidade virtual.
Logo, é preciso demonstrar a possibilidade de análise de operações e/ou sistema de operações (estruturas) no ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa, isto é, colocar a teoria piagetiana em movimento, dando visibilidade à lógica em ação tanto no sujeito quanto na ferramenta.
Para entender o papel de um sujeito em relação ao computador ou, mais especificamente, a um ambiente de realidade virtual, os psicólogos piagetianos (observadores) acompanham e estudam a evolução cognitiva do sujeito, coletando os dados necessários até chegar no seu desenvolvimento máximo, com o objetivo de analisá-lo. Neste estudo, o sujeito é interpretado em termos da lógica-operatória piagetiana. Mas, para compreender de forma completa essa interação sujeito-computador, também é preciso entender a ferramenta que está envolvida na mesma. Quem faz esse estudo é a Ciência da Computação e pensamos que, para tornar essa descrição compatível com a do sujeito, isto é, descrita nos mesmos termos, o computador (neste caso, o ambiente em questão) também deve ser reinterpretado nos termos da lógica-operatória.

Colocação dos problemas de pesquisa
Podem ser colocados alguns problemas formulados na pesquisa em questão: Como analisar a interação entre um sujeito e um objeto? Por que não transportar conceitos em relação à construção do conhecimento humano para a máquina? Se o sujeito é interpretado de uma forma, por que não interpretar os ambientes computacionais utilizando os mesmos recursos? Como analisar os sujeitos que trabalham com ferramentas computacionais cooperativas que, neste caso é o ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa? Que tipo de sujeito é este que vai interagir com o ambiente? Como interpretá-lo? A partir de então, é que foi selecionada a Lógica Operatória, da teoria de Jean Piaget, para analisar o ambiente de realidade virtual.
Foi com o intuito de responder estas questões, que se abordará este campo de interseção entre a Ciência da Computação e a Epistemologia Genética de Jean Piaget, reforçando, dentro desta última, a idéia de que é perfeitamente possível trabalhar, a partir de modelos de ambientes computacionais, com hipóteses de investigação sobre operações mentais.

Hipótese do estudo
A hipótese geral que levantamos e que direciona esta atividade dentro do projeto de pesquisa é: será que os sistemas computacionais de realidade virtual podem funcionar simulando o grupo INRC da mesma forma como funciona no sujeito?
Para responder esta questão, tanto o sujeito quanto a ferramenta computacional (AIENA) tem que ser interpretados em termos da lógica operatória. Assim, as estruturas do sujeito tem que ser compatíveis com as estruturas do objeto (ferramentas computacionais) para que estes possam interagir de forma harmoniosa. Portanto, a ocorrência de um possível bloqueio por parte do sujeito, significaria que estas estruturas (sejam estas agrupamentos de classes e/ou relações e/ou o grupo INRC) não estão de acordo, ou seja, que existem operações, regras e estruturas no ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa que ainda não foram desenvolvidas no sujeito. Portanto, este ainda não estaria apto para interagir com a mesma.
Caso esta hipótese tenha validade pode ser destacado, como contribuição geral desta parte do projeto de pesquisa, o desenvolvimento de um instrumento que poderá servir, visto sob a ótica do sujeito, como uma contribuição para os educadores e pesquisadores em geral, já que estes poderão utilizá-lo como guia para auxiliar no desenvolvimento lógico-operatório de sujeitos envolvidos em experiências através do uso de ambientes de realizade virtual..
Por outro lado, isto é, visto do ponto de vista do objeto, este instrumento poderá ser utilizado para avaliar softwares e groupwares, de acordo com um sistema de operações, isto é, com agrupamentos de classes e relações e/ou grupo INRC. Além disso, poderá ser construído um método de análise de ambientes virtuais que  poderá servir para o projeto e desenvolvimento de ferramentas computacionais deste tipo baseado na lógica operatória piagetiana.

Plano de pesquisa
Atividades:
1. Construção de um método de análise lógico-operatória do sujeito coletivo envolvido no ambiente
2. Análise do ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa de acordo com a lógica  operatória
3. Aplicação da análise lógico-operatória do ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa  no modelo construído
4. Análise da existência de agrupamentos de classes e relações e/ou do grupo INRC em relação ao sujeito coletivo envolvido na interação e ao próprio ambiente de realidade virtual
5. Possível construção de um método de análise lógico-operatória de ambientes virtuais
de uso cooperativo
 

ALGUMAS IDÉIAS A SEREM DISCUTIDAS...

O que é operação para Piaget?
Segundo Piaget, é denominada de operação "à ação interiorizada ou interiorizável, reversível e coordenada em uma estrutura total...", ou ainda, "é uma ação suscetível de voltar ao seu ponto de partida e de fazer composição com outras segundo esse duplo modo direto e inverso". Assim, um conjunto de operações forma um sistema de operações.
Nesta abordagem, este conceito de operação em relação ao sujeito será reinterpretado para o objeto. Portanto, chamamos de operação na ferramenta computacional à aquela realizada pelo sujeito mas transferida para a máquina. Assim, estas ações realizadas na ferramenta também podem formar um sistema de operações. Logo, no presente estudo serão analisadas algumas operações lógicas e infralógicas tanto do sujeito quanto do ambiente de realidade virtual.

O sujeito coletivo e a co-operação:
Um grupo que trabalha de forma coletiva ou colaborativa não necessariamente está trabalhando de forma cooperativa. Mas neste contexto, um dos objetivos é caracterizar um ambiente de realidade virtual de aprendizagem cooperativa? em termos da lógica operatória e, portanto, levaremos em conta uma interação interindividual de cooperação com vistas a um fim específico. Portanto, o que interessa são as ações coletivas cooperativas. Logo, quando falamos de sujeito coletivo, estamos nos referindo "ao grupo que realiza um conjunto de operações com um objetivo em comum, ou seja,  um sujeito co-operativo".

Justificativa da análise lógica operatória, do ponto de vista das operações infralógicas:
· De acordo com Piaget, a operação  infralógica consiste em "compor o objeto através de seus próprios elementos, conseguindo assim, não classes e nem relações independentes do espaço, mas sim, objetos totais de distintos tipos".
· Trata-se, por exemplo, de reunir as partes de um objeto em um todo ou de colocá-los em uma ordem de sucessão determinada. Por exemplo, em um quebra-cabeças, para formar uma figura a partir dos elementos, é necessário considerar as relações espaciais dos fragmentos entre si, as vizinhanças, a fim de determinar qual o fragmento que deve ir ao lado do outro para formar a figura total.
· O termo infralógico significa que estes tipos de operações são formadoras da noção  do objeto. Estas não se apoiam nos encaixes de classes mas sim, nas partes de um mesmo objeto total, substituindo a noção  de semelhança pela de vizinhança, a de diferença pela de ordem ou colocação  e a de número pela de medida.
· Segundo nossa interpretação, quando um sujeito, por exemplo, imerge em um Ambiente de Realidade Virtual, ele está trabalhando sobre o espaço representativo, compondo um objeto (figura total) através de suas partes. Isto significa que ele estará operando, preponderantemente, em um nível infralógico, compondo, a partir dos objetos parciais, objetos totais.
· Outro exemplo: quando um sujeito se desloca sobre um determinado espaço ele está operando com a infralógica, porque todas as operações executadas dependerão das relações espaciais e temporais.
· Algumas operações infralógicas a serem identificadas no sujeito que imerge no ambiente em questão, no caso da análise operatória ser aplicada aos casos 1 e 2):
· Vizinhança;
· Separação;
· Ordem;
· Circunscrição  (ou de envolvimento);
· Continuidade e descontinuidade;
·  Partição e adição primitiva;
· Ordem de colocação;
· Adição e subtração de elementos;
· Colocações e deslocamentos, entre outras.

O sujeito também estará operando a nível lógico porque:
· Segundo Piaget a operação lógica "é aquela que trata sobre objetos individuais considerados como invariantes e se limita a reuni-los ou a relacioná-los independentemente de suas vizinhanças e das distâncias espaço-temporais que os separam". Este tipo de operação  agrupa ou reúne os objetos em classes segundo propriedades em comum, dando lugar à inclusão de classes e às operações que existem entre elas, como a adição, subtração, etc. Ela também ordena os objetos segundo diferenças, dando lugar às seriações aditivas e multiplicativas.
·  Neste caso, o objeto é tomado independentemente das relações espaço-temporais entre este e outros objetos e, além disso, é considerado como uma unidade, sem levar em conta as partes espaciais que o constituem.
· Por exemplo, quando o sujeito constrói um conceito qualquer e trata este como um objeto individual (todo) e o relaciona com outros objetos (outros conceitos), estará operando a nível lógico.
·  Algumas operações lógicas a serem analisadas neste tipo de ação executada:
· Classificação;
· Seriação;
· Proporcionalidade;
· Probabilidade.
 

OUTRAS IDÉIAS EM RELAÇÃO À AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM COOPERATIVA...

Objetivo da pesquisa:

Utilização da lógica operatória piagetiana para investigar as interações dos sujeitos que participam de um Ambiente imersivo de aprendizagem cooperativa

A lógica operatória será o objeto de estudo para analisar o trabalho cooperativo do grupo, do ponto de vista da:
· comunicação  (para se ver, ouvir, enviar msg);
· coordenação das ações (ponto de vista de ações que emanam de diferentes sujeitos; a coordenação interindividual das ações permitem a construção de uma lógica; coordenação de ações coletivas: sujeitos trocam idéias, proposições, pensamentos = confronto de pontos de vista que, por suas diferenças, constituem situações de desequilíbrio das estruturas),
· compartilhamento da área de trabalho/informações,
· negociação do grupo caso haja contradições internas entre os diferentes esquemas dos sujeitos produzidas no decurso da interação social e,
· co-realização das tarefas.

CONCEITOS CHAVE:
· O Trabalho Cooperativo deverá ser eficaz para atingir seus objetivos a partir da organização coletiva, eficientes no sentido de satisfazer idéias individuais, se adequa à área educacional, como alternativa ao processo tradicional, que cria competição entre os alunos.
· Cooperação: estimula a interação e a ajuda mútua;
· As interações interindividuais: relação social que constitui uma totalidade de características novas, transformando a estrutura mental do sujeito. A interação entre dois ou mais sujeitos não é nem a soma das suas idéias, de seus conhecimentos, nem a realidade deles superpostas, mas é uma totalidade nova; um sistema de interação que modifica o sujeito na sua estrutura e, portanto, a estrutura do grupo como um todo.
· Aprendizado cooperativo (segue um enfoque heurístico, enfatiza a descoberta e privilegia no sujeito a atividade criativa, a exploração e a construção do conhecimento)  analisado do ponto de vista da lógica operatória.