Explicação do tema:
Esta atividade dentro do projeto de pesquisa aborda uma área
de conhecimento interdisciplinar, fazendo a integração da
Teoria Piagetiana com a Ciência da Computação, mais
especificamente, a
utilização da lógica operatória piagetiana
para analisar um ambiente imersivo de ensino-aprendizagem colaborativo,
do ponto de vista das operações lógicas e/ou infralógicas
tanto do ambiente quanto do sujeito em interação com o mesmo.
Objetivo da pesquisa:
O objetivo desta parte do projeto de pesquisa é análise lógico-operatória de um ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa. Portanto, trata-se da aplicação da teoria piagetiana em relação aos sistemas computacionais, mas não só em relação a análise de ferramentas computacionais do ponto de vista das operações lógicas e/ou infralógicas, diretas e/ou indiretas, mas levando em conta também o conjunto destas operações (sistema de operações), isto é, os agrupamentos de classes e/ou relações e/ou o grupo INRC.
Idéias principais que vão direcionar a pesquisa:
As máquinas de produção simbólica (semiótica)
trazem uma novidade em relação às máquinas
em geral: elas não produzem apenas uma "obra". Os ambientes computacionais
constituem-se em campos de possibilidades de nascimento, existência
e de transformação de novos objetos. Por isso são
denominados de ferramentas. Essa potencialização coloca problemas
a diferentes áreas de conhecimento, que se sentem convocadas tanto
a emprestar modelos teóricos, quanto a, reciprocamente, sofrerem
perturbações e questionamentos mediante a operacionalização
de alguns de seus modelos. Portanto, neste projeto, trabalhar interdisciplinarmente,
significa buscar na teoria psicogenética de Jean Piaget, conceitos
e modelos, redefinindo e testando-os dentro da perspectiva da Ciência
da Computação.
A chamada Lógica Operatória é um modelo desenvolvido
por Jean Piaget para o estudo das relações entre os níveis
de explicação que o sujeito, em sua vivência cognitiva,
estabelece sobre os fenômenos do mundo físico e social em
que vive. Neste projeto de pesquisa uma das atividades a serem desenvolvidas
é a utilização da lógica operatória
pela ciência da computação, como meio de definir as
principais estruturas de funcionamento de diversos aplicativos de uso colaborativo,
sob um ponto de vista baseado na forma cognitiva e simbólica do
processamento de informações.
As principais questões a serem respondidas neste estudo são:
como e porquê estender um modelo de análise operatória
advindo da teoria piagetiana para analisar um ambiente de realidade virtual.
Logo, é preciso demonstrar a possibilidade de análise
de operações e/ou sistema de operações (estruturas)
no ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa, isto é, colocar
a teoria piagetiana em movimento, dando visibilidade à lógica
em ação tanto no sujeito quanto na ferramenta.
Para entender o papel de um sujeito em relação ao computador
ou, mais especificamente, a um ambiente de realidade virtual, os psicólogos
piagetianos (observadores) acompanham e estudam a evolução
cognitiva do sujeito, coletando os dados necessários até
chegar no seu desenvolvimento máximo, com o objetivo de analisá-lo.
Neste estudo, o sujeito é interpretado em termos da lógica-operatória
piagetiana. Mas, para compreender de forma completa essa interação
sujeito-computador, também é preciso entender a ferramenta
que está envolvida na mesma. Quem faz esse estudo é a Ciência
da Computação e pensamos que, para tornar essa descrição
compatível com a do sujeito, isto é, descrita nos mesmos
termos, o computador (neste caso, o ambiente em questão) também
deve ser reinterpretado nos termos da lógica-operatória.
Colocação dos problemas de pesquisa
Podem ser colocados alguns problemas formulados na pesquisa em questão:
Como analisar a interação entre um sujeito e um objeto? Por
que não transportar conceitos em relação à
construção do conhecimento humano para a máquina?
Se o sujeito é interpretado de uma forma, por que não interpretar
os ambientes computacionais utilizando os mesmos recursos? Como analisar
os sujeitos que trabalham com ferramentas computacionais cooperativas que,
neste caso é o ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa? Que
tipo de sujeito é este que vai interagir com o ambiente? Como interpretá-lo?
A partir de então, é que foi selecionada a Lógica
Operatória, da teoria de Jean Piaget, para analisar o ambiente de
realidade virtual.
Foi com o intuito de responder estas questões, que se abordará
este campo de interseção entre a Ciência da Computação
e a Epistemologia Genética de Jean Piaget, reforçando, dentro
desta última, a idéia de que é perfeitamente possível
trabalhar, a partir de modelos de ambientes computacionais, com hipóteses
de investigação sobre operações mentais.
Hipótese do estudo
A hipótese geral que levantamos e que direciona esta atividade
dentro do projeto de pesquisa é: será que os sistemas computacionais
de realidade virtual podem funcionar simulando o grupo INRC da mesma forma
como funciona no sujeito?
Para responder esta questão, tanto o sujeito quanto a ferramenta
computacional (AIENA) tem que ser interpretados em termos da lógica
operatória. Assim, as estruturas do sujeito tem que ser compatíveis
com as estruturas do objeto (ferramentas computacionais) para que estes
possam interagir de forma harmoniosa. Portanto, a ocorrência de um
possível bloqueio por parte do sujeito, significaria que estas estruturas
(sejam estas agrupamentos de classes e/ou relações e/ou o
grupo INRC) não estão de acordo, ou seja, que existem operações,
regras e estruturas no ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa que
ainda não foram desenvolvidas no sujeito. Portanto, este ainda não
estaria apto para interagir com a mesma.
Caso esta hipótese tenha validade pode ser destacado, como contribuição
geral desta parte do projeto de pesquisa, o desenvolvimento de um instrumento
que poderá servir, visto sob a ótica do sujeito, como uma
contribuição para os educadores e pesquisadores em geral,
já que estes poderão utilizá-lo como guia para auxiliar
no desenvolvimento lógico-operatório de sujeitos envolvidos
em experiências através do uso de ambientes de realizade virtual..
Por outro lado, isto é, visto do ponto de vista do objeto, este
instrumento poderá ser utilizado para avaliar softwares e groupwares,
de acordo com um sistema de operações, isto é, com
agrupamentos de classes e relações e/ou grupo INRC. Além
disso, poderá ser construído um método de análise
de ambientes virtuais que poderá servir para o projeto e desenvolvimento
de ferramentas computacionais deste tipo baseado na lógica operatória
piagetiana.
Plano de pesquisa
Atividades:
1. Construção de um método de análise lógico-operatória
do sujeito coletivo envolvido no ambiente
2. Análise do ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa
de acordo com a lógica operatória
3. Aplicação da análise lógico-operatória
do ambiente imersivo de aprendizagem colaborativa no modelo construído
4. Análise da existência de agrupamentos de classes e
relações e/ou do grupo INRC em relação ao sujeito
coletivo envolvido na interação e ao próprio ambiente
de realidade virtual
5. Possível construção de um método de
análise lógico-operatória de ambientes virtuais
de uso cooperativo
ALGUMAS IDÉIAS A SEREM DISCUTIDAS...
O que é operação para Piaget?
Segundo Piaget, é denominada de operação "à
ação interiorizada ou interiorizável, reversível
e coordenada em uma estrutura total...", ou ainda, "é uma ação
suscetível de voltar ao seu ponto de partida e de fazer composição
com outras segundo esse duplo modo direto e inverso". Assim, um conjunto
de operações forma um sistema de operações.
Nesta abordagem, este conceito de operação em relação
ao sujeito será reinterpretado para o objeto. Portanto, chamamos
de operação na ferramenta computacional à aquela realizada
pelo sujeito mas transferida para a máquina. Assim, estas ações
realizadas na ferramenta também podem formar um sistema de operações.
Logo, no presente estudo serão analisadas algumas operações
lógicas e infralógicas tanto do sujeito quanto do ambiente
de realidade virtual.
O sujeito coletivo e a co-operação:
Um grupo que trabalha de forma coletiva ou colaborativa não
necessariamente está trabalhando de forma cooperativa. Mas neste
contexto, um dos objetivos é caracterizar um ambiente de realidade
virtual de aprendizagem cooperativa? em termos da lógica operatória
e, portanto, levaremos em conta uma interação interindividual
de cooperação com vistas a um fim específico. Portanto,
o que interessa são as ações coletivas cooperativas.
Logo, quando falamos de sujeito coletivo, estamos nos referindo "ao grupo
que realiza um conjunto de operações com um objetivo em comum,
ou seja, um sujeito co-operativo".
Justificativa da análise lógica operatória, do
ponto de vista das operações infralógicas:
· De acordo com Piaget, a operação infralógica
consiste em "compor o objeto através de seus próprios elementos,
conseguindo assim, não classes e nem relações independentes
do espaço, mas sim, objetos totais de distintos tipos".
· Trata-se, por exemplo, de reunir as partes de um objeto em
um todo ou de colocá-los em uma ordem de sucessão determinada.
Por exemplo, em um quebra-cabeças, para formar uma figura a partir
dos elementos, é necessário considerar as relações
espaciais dos fragmentos entre si, as vizinhanças, a fim de determinar
qual o fragmento que deve ir ao lado do outro para formar a figura total.
· O termo infralógico significa que estes tipos de operações
são formadoras da noção do objeto. Estas não
se apoiam nos encaixes de classes mas sim, nas partes de um mesmo objeto
total, substituindo a noção de semelhança pela
de vizinhança, a de diferença pela de ordem ou colocação
e a de número pela de medida.
· Segundo nossa interpretação, quando um sujeito,
por exemplo, imerge em um Ambiente de Realidade Virtual, ele está
trabalhando sobre o espaço representativo, compondo um objeto (figura
total) através de suas partes. Isto significa que ele estará
operando, preponderantemente, em um nível infralógico, compondo,
a partir dos objetos parciais, objetos totais.
· Outro exemplo: quando um sujeito se desloca sobre um determinado
espaço ele está operando com a infralógica, porque
todas as operações executadas dependerão das relações
espaciais e temporais.
· Algumas operações infralógicas a serem
identificadas no sujeito que imerge no ambiente em questão, no caso
da análise operatória ser aplicada aos casos 1 e 2):
· Vizinhança;
· Separação;
· Ordem;
· Circunscrição (ou de envolvimento);
· Continuidade e descontinuidade;
· Partição e adição primitiva;
· Ordem de colocação;
· Adição e subtração de elementos;
· Colocações e deslocamentos, entre outras.
O sujeito também estará operando a nível lógico
porque:
· Segundo Piaget a operação lógica "é
aquela que trata sobre objetos individuais considerados como invariantes
e se limita a reuni-los ou a relacioná-los independentemente de
suas vizinhanças e das distâncias espaço-temporais
que os separam". Este tipo de operação agrupa ou reúne
os objetos em classes segundo propriedades em comum, dando lugar à
inclusão de classes e às operações que existem
entre elas, como a adição, subtração, etc.
Ela também ordena os objetos segundo diferenças, dando lugar
às seriações aditivas e multiplicativas.
· Neste caso, o objeto é tomado independentemente
das relações espaço-temporais entre este e outros
objetos e, além disso, é considerado como uma unidade, sem
levar em conta as partes espaciais que o constituem.
· Por exemplo, quando o sujeito constrói um conceito
qualquer e trata este como um objeto individual (todo) e o relaciona com
outros objetos (outros conceitos), estará operando a nível
lógico.
· Algumas operações lógicas a serem
analisadas neste tipo de ação executada:
· Classificação;
· Seriação;
· Proporcionalidade;
· Probabilidade.
OUTRAS IDÉIAS EM RELAÇÃO À AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM COOPERATIVA...
Objetivo da pesquisa:
Utilização da lógica operatória piagetiana para investigar as interações dos sujeitos que participam de um Ambiente imersivo de aprendizagem cooperativa
A lógica operatória será o objeto de estudo para
analisar o trabalho cooperativo do grupo, do ponto de vista da:
· comunicação (para se ver, ouvir, enviar
msg);
· coordenação das ações (ponto de
vista de ações que emanam de diferentes sujeitos; a coordenação
interindividual das ações permitem a construção
de uma lógica; coordenação de ações
coletivas: sujeitos trocam idéias, proposições, pensamentos
= confronto de pontos de vista que, por suas diferenças, constituem
situações de desequilíbrio das estruturas),
· compartilhamento da área de trabalho/informações,
· negociação do grupo caso haja contradições
internas entre os diferentes esquemas dos sujeitos produzidas no decurso
da interação social e,
· co-realização das tarefas.
CONCEITOS CHAVE:
· O Trabalho Cooperativo deverá ser eficaz para atingir
seus objetivos a partir da organização coletiva, eficientes
no sentido de satisfazer idéias individuais, se adequa à
área educacional, como alternativa ao processo tradicional, que
cria competição entre os alunos.
· Cooperação: estimula a interação
e a ajuda mútua;
· As interações interindividuais: relação
social que constitui uma totalidade de características novas, transformando
a estrutura mental do sujeito. A interação entre dois ou
mais sujeitos não é nem a soma das suas idéias, de
seus conhecimentos, nem a realidade deles superpostas, mas é uma
totalidade nova; um sistema de interação que modifica o sujeito
na sua estrutura e, portanto, a estrutura do grupo como um todo.
· Aprendizado cooperativo (segue um enfoque heurístico,
enfatiza a descoberta e privilegia no sujeito a atividade criativa, a exploração
e a construção do conhecimento) analisado do ponto
de vista da lógica operatória.