Proposta:
Quanto ao Ambiente:
- Observar a interação ocorrida na
exploração de ambientes virtuais na Internet;
- Analisar as ferramentas, as interações
entre os envolvidos com base na qualidade dos mecanismos das interações
sócio-cognitivas.
Quanto aos mecanismos cognitivos e sócio-cognitivos:
- Verificar a presença dos mecanismos cognitivos de: centração,
descentração, inferência, antecipação,
retroação e perturbação entre os sujeitos
envolvidos;
- Identificar relações de egocentrismo, conformismo,
coação e cooperação.
A concepção de Piaget sobre inteligência remete
a uma abordagem onde o desenvolvimento do pensamento é um processo
de autêntica construção. Para Piaget (1987), a inteligência
é uma forma de adaptação.
É uma contínua construção criando formas
cada vez mais complexas e buscando uma equilibração progressiva
entre o organismo e o meio. A inteligência possui estruturas variáveis
e funções invariáveis, estas últimas possibilitam
descrever o mecanismo de funcionamento do pensamento em termos biológicos.
As funções invariáveis são chamadas por ele
de invariantes funcionais da inteligência. Funcionais, porque estão
envolvidos no funcionamento da inteligência e invariantes, porque
qualquer que seja o momento evolutivo, sempre haverá assimilação
do meio às atividades do sujeito e acomodação
destas atividades às características impostas pelo objeto.
As funções invariantes básicas são a organização
e a adaptação, esta última, com seu dois componentes
inter-relacionados - assimilação e acomodação.
"O organismo adapta-se construindo
materialmente novas formas para inseri-las
nas do universo, ao passo que a inteligência
prolonga tal criação construindo,
mentalmente, as estruturas suscetíveis de
aplicarem-se ao meio" (Piaget, 1987,
p.15-16).
Piaget deixa claro que se refere a adaptação no
sentido de processo, distinta da adaptação-estado. Acompanhando
o processo percebe-se que é o "organismo que se transforma em função
do meio, e essa variação tem por efeito um incremento do
intercâmbio entre o meio e aquele, favorável à sua
conservação, isto é, à conservação
do organismo" (ibidem, p.16). Ao
passo que na adaptação-estado, nada é claro.
Os estudos de Piaget tiveram como base condições de interação
baseadas em ambientes naturais e culturais. Com o advento da tecnologia
outras dimensões de interação são acrescentadas,
conforme Fagundes (1997), onde na estrutura de rede, o computador deixa
de ser o centro e
passa a ser mais um elo da trama.
"É
na interação cognitiva no seio de uma
situação que cada um, com reciprocidade,
contribui para estabilizar, modificar ou
reequilibrar a construção do
conhecimento."(Fagundes,1997)
Com os novos ambientes de aprendizagem cooperativos surge a necessidade
da reflexão sobre os laços sociais em torno do aprendizado
recíproco. Lévy (1993) define inteligência coletiva
não como um conceito exclusivamente cognitivo, mas antes de trabalhar
em comum acordo.
Segundo o autor é "uma inteligência distribuída
por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que
resulta em uma mobilização efetiva das competências".
Em Levy (1996) a compreensão da virtualidade. O espaço
virtual vem de uma realidade também virtual, que é a representação
através da produção simbólica com o uso de
computadores. O virtual segundo Levy (1996), caracteriza o desprendimento
do aqui e agora, a
desterritorialização, significa "não está
presente". Algo ocupa um lugar no espaço, mas não pertence
a nenhum lugar, caracterizando uma "ocupação virtual de um
espaço". Segundo Levy (1996, p.38), "uma tecnologia intelectual,
quase sempre exterioriza, objetiviza, virtualiza uma função
cognitiva, uma atividade mental".
Observável - é aquilo que o sujeito crê constatar
e não simplesmente aquilo que é constatável. É
o mesmo que dizer que uma constantação nunca é independente
dos instrumentos de registro (assimilação) de que dispõe
o sujeito e que estes instrumentos não são puramente perceptivos,
mas consistem em esquemas pré-operatórios ou operatórios
aplicados à percepção atual e podendo modificar os
dados desta num sentido, seja de precisão suplementar, seja de deformação.
- Reconhecer como e quando aparecem os mecanismos cognitivos de: centração, descentração, inferência, antecipação, retroação entre os sujeitos envolvidos;
Centração e Descentração - característica do pensamento pré-operacional. Segundo Piaget (Estudos Sociológicos), as trocas interindividuais das crianças podem, em certa etapa, ser marcadas por um egocentrismo, isto é, uma indiferenciação entre o ponto de vista próprio e o do outro.
- Centrado no ponto de vista próprio: (Valentini,1995)
Ocorre quanto a reflexão dos sujeitos reflete uma
conduta de centração, correspondendo ao ponto de vista momentâneo
do sujeito, sem mobilidade, ou seja sem transformações operatórias
possíveis, sem descentração.
- Considerar o ponto de vista do outro:
As condutas de descentração são percebidas na
conversação através da coordenação de
pontos de vista, a partir das discussões. O sujeito é capaz
de conservar os dados anteriores e parece sensível à contradição.
Inferência -
Consideramos inferências quando os sujeitos constroem relações
novas que ultrapassam a fronteira do observável.
Antecipação-
A antecipação é um dos dois sentidos da regulação.
No chat aparece condutas antecipatórias, que pode acontecer através
do texto escrito ou das conversas dos sujeitos.
As antecipações podem ser entendidas como um processo
representativo, ocorrendo uma descentração.
Retroação -
O sujeito retoma o assunto no sentido de correção ou
reforço. As retroações compõem o processo de
novas regulações.
- recuperação da continuidade do tema/assunto-
o sujeito recupera a continuidade do tema da conversação,
possibilitando o enriquecimento da interação e maiores trocas.
Pode acontecer através do chat ou dos formulários.
- busca de informação adicional -
o sujeito busca informações e esclarecimentos sobre o
assunto que está sendo discutido ou sobre o próprio interlocutor.
- Identificar relações de egocentrismo, conformismo,
coação e cooperação. Egocentrismo-
O egocentrismo intelectual pode ser visto como uma atitude espontânea
que comanda a atividade da criança nos seus primeiros tempos e subsiste
por toda a vida. Na presença do egocentrismo, os parceiros não
conseguem coordenar seus pontos de vista, uma vez que concebem as coisas
e os indivíduos a partir de suas próprias ações.
(Estrázulas, 1997)
Conformismo -
Segundo Piaget, o respeito unilateral, motivado pela admiração
é um dos principais fatores do conformismo intelectual. O conformismo
ocorre quando um indivíduo voluntariamente se submete à escala
de valores do outro em função da presença do respeito
unilateral ou valorização não recíproca dos
parceiros.
São indicadores do conformismo (Ramos in Estrázulas,
1997): o fato do sujeito não decidir por sua conta o que fazer;
a aceitação passiva de orientações contraditórias
às coordenações já construídas ; pedidos
constantes de permissão para agir; considerar-se responsável
por fracassos na realização de tarefas, mesmo quando esse
não for o caso.
Coação -
Diferentemente do conformismo, na coação o indivíduo
adota o ponto de vista do outro não mais espontaneamente mas sob
o efeito de sua autoridade ou prestígio. Existe uma aparência
de equilibrio que não deixa transparecer de imediato a fragilidade
da interação. O sistema de expressão lingüístico
e o sistema de significações serão superficialmente
comuns enquanto perdurar a coação. Entretanto, como o sistema
de obrigações não é mútuo, a ausência
da reciprocidade se encarregará de desvelar a irreversibilidade
do processo, confirmando a inexistência de um equilíbrio interno.
Cooperação -
Relação entre pontos de vista diferentes.
O equilíbrio atingido pelas trocas cooperativas de pensamento
toma a forma de um sistema de operações recíprocas.
Por se tratar de relações qualitativas ou simplesmente lógicas,
foram chamadas por Piaget de agrupamento, por oposição aos
grupos que se referem às operações numéricas.
Quando os parceiros têm em comum um sistema de convenções
ou hipóteses, sem que isso signifique pré-julgamento ou empecilho
para outras construções (julgamento ou raciocínios),
então há convergência nas comunicações
e correspondência entre as operações. Resultará
daí uma conservação da validade dos acordos e uma
capacidade de não-contradição que decorre da reversibilidade
de seus pensamentos. Os agrupamentos operatórios estarão
garantidos nos dois sentidos e será possível constatar
a reciprocidade no processo de trocas.
Referencias Bibliográficas
Estrázulas, M.B. P. (1997) Interação e sócio-cognição
na Intenet: A
Teoria de Desenvolvimento sócio-cognitivo de Jean Piaget no
Estudo das
Trocas entre Crianças na Escola e Fora da Escola. Dissertação
de
mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Fagundes, L. C. (1997). A inteligência Cognitiva - A Inteligência
Distribuída. In: Pátio, l (1) maio/julho, 1997.
Grings, E. S. (1998). A Representação do Espaço
Cibernético pela
Criança, na Utilização de um Ambiente Virtual.
Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Lévy, P. (1996). O Que é Virtual?. São Paulo: Editora
34.
Originalmente publicado em francês, intitulado "Qu’est-ce que
le virtuel?",
em 1995.
Piaget, J. (1973) Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Companhia
Editora Forense.
Piaget, J. (1976). A Equilibração das Estruturas
Cognitivas. Rio de
Janeiro: Zahar Editores. Originalmente publicado em francês,
intitulado
"L’equilibration des structures cognitives - Problème central
du
développement", em 1975.
Valentini, C.B.(1995) A Apropriação da Leitura e escrita
e os mecanismos
cognitivos de sujeitos surdos em interação em rede telemática.
dissertação de
mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.