1
Introdução
2
A Realidade Virtual no contexto educacional
3
Criando ambientes virtuais: alguns aspectos a considerar
3.1 Aspectos teóricos
sobre a aprendizagem humana
3.2 Aspectos tecnológicos
dos sistemas de realidade virtual
4
Conclusões
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Bibliografia
Grande parte dos mudanças na práxis pedagógica que estão ocorrendo atualmente, são devidos, certamente, a novas tecnologias. Estas novas tecnologias tem colocado a disposição do educadores inúmeras e poderosas formas de apoio à aprendizagem humana. Entre estas novas tecnologias está a realidade virtual. O uso desta emergente e promissora tecnologia, que faz parte dos chamados Sistemas de Realidade Virtual (os SRVs), vem se difundindo de forma muito rápida na educação. Entretanto, como qualquer tecnologia, para que seu uso seja feito de forma correta no contexto educacional, seu projeto deve estar fortemente embasado em presupostos teóricos e comprovados sobre como o homem aprende. Sem este cuidado, certamente teremos mais uma parafernália inútil e descartável, no rol de tantas outras já criadas e esquecidas.
Assim, o projeto e implementação dos chamados ambientes virtuais, nos quais se inserem os Sistemas de Realidade Virtual, para aplicação no contexto educativo. deve levar em conta não somente os aspectos tecnológicos mas tambem, e principalmente, os aspectos cognitivos e afetivos do desenvolvimento intelectual, ou seja, é necessário que as decisões de projeto, implementação e uso destes ambientes apoiem-se no entendimento de como o indivíduo constroi o conhecimento, bem como ocorre a aprendizagem humana.
3 A Realidade Virtual no contexto educacional
Os SRV estão causando, sem sombra de dúvida, uma enorme (r)evolução
no processo educacional. Como um ambiente de apoio à aprendizagem,
os mundos virtuais, onde o sujeito possa se movimentar, ouvir, ver e manipular
objetos, como no mundo real, certamente representam efetivas oportunidades
à disposição dos educadores. A
introdução dos SRVs na educação modificará
significativamente o papel destes educadores, sendo-lhes exigido
novas competências. É necessário que eles se sintam
motivados a recorrer ao uso desta nova tecnologia.
O quadro abaixo apresenta algumas áreas potenciais onde os benefícios
educacionais podem ser esperados:
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Simulação de sistemas complexos | Habilidade para observar a operação do sistema a partir de um número de perspectivas aliada a uma alta qualidade de visualização e interação |
Visualização macroscópica e microscópica | Observação de propriedades de objetos, que são muito grandes ou muito pequenos para serem observados em escala normal |
Simulação em tempos mais rápidos ou mais lentos | Habilidade para controlar a escala de tempo em um evento dinâmico. Esta facilidade pode operar como no avanço ou retrocesso rápido dos gravadores de vídeo modernos. |
Permite altos níveis de interatividade | Os SRVs permitem um grau maior de interatividade que outros sistemas baseados em computador |
Sensão de imersão | Em algumas aplicações, a sensação de escala é extremamamente importante |
Flexibilidade e adaptabilidade | Um mesmo SRV pode ser alocado à diversos usos |
3 Criando ambientes virtuais: alguns aspectos a considerar
3.1 Aspectos teóricos sobre a aprendizagem humana
Educar não é apenas transmitir conhecimento; educar abrange
uma atuação muito mais ampla; e educar está estritamente
relacionado com aprendizagem. O termo aprendizagem, no entanto,
não tem um significado que só admite uma interpretação:
seu conceito depende das características que cada teoria lhe
atribui. Entretanto, todas as teorias de aprendizagem dependem, por sua
vez, das concepções sobre a natureza do conhecimento e das
hipóteses sobre o desenvolvimento intelectual.
As teorias de Jean Piaget e seus colaboradores, sobre a gênese dos
conhecimentos, formam um conjunto que Battro, apud [Minguet98] qualifica
como "Sistema Piagetiano". Um dos pilares deste "sistema'" chama-se Teoria
da Equilibração das Estruturas Cognitivas. A partir
da ótica piagetiana, os conhecimentos não são simples
produtos da aprendizagem, de condições inatas ou de processos
linguísticos. Tais conhecimentos procedem de construções
sucessivas com constantes elaborações de novas estruturas,
e sua formação e desenvolvimento se explica a partir de um
processo central de equilibração, que vai desde determinados
estados de equilíbrio a outros qualitativamente diferentes, através
de desequilíbrios e reequilibrações. Este
processo (re)construtivo é empurrado pela busca de coerência
à qual nenhum sujeito pode renunciar. Este "ímpeto" chama-se
equilibração majorante.
Outro pilar no sistema piagetiano está relacionado com a atividade
do sujeito: o desenvolvimento cognitivo se faz, essencialmente, através
da interação do sujeito e o mundo que o envolve, ou seja,
dito de outra forma, "do ponto de vista interacionista, o conhecimento
deve ser considerado como uma relação de interdependência
entre o sujeito conhecedor e o objeto a ser conhecido"[Barbel77].
Segundo Piaget, o objeto do conhecimento não pode ser conhecido
senão por aproximações sucessivas através
das atividades do sujeito, o que supõe um trabalho contínuo
de elaboração e de descentração por parte do
sujeito conhecedor. Disso decorre, que uma situação
de aprendizagem é mais produtiva quanto mais ativo é o sujeito.
A chave da compreensão da aprendizagem é, como mostra Piaget,
a ação. Aquilo que, em uma ação, é
transponível, generalizável ou diferenciável de uma
situação à seguinte é chamado esquema
de ação. Piaget define tambem esquemas como"unidades
de comportamento suscetíveis de repetição mais ou
menos estável e de aplicação a situações
ou objetos diversos"[Piaget96] p. 266. A incorporação dos
objetos aos esquemas de ações do sujeito, de maneira que
um objeto é percebido e concebido em função das ações
que o utilizam, é definido, no sistema piagetiano, como assimilação.
A assimilação encontra-se presente na vida orgânica
e em todos os estágios da vida psíquica ou mental.
A assimilação, cognitiva, implica em esquemas e é
feita sempre através de esquemas. Segundo Becker, "é
impossível tratar de aprendizagem sem tratar dos esquemas: os esquemas
constituem a condição de possibilidade (condição
necessária) de toda aprendizagem stricto sensu, e o processo
de construção de novos esquemas e de sua coordenação
é o próprio processo de equilibração, ou seja,
o processo de aprendizagem lato sensu" [Becker93], p. 36.
Piaget distingue três aspectos da assimilação:
Como vimos, os Sistemas de Realidade Virtual (SRV) representam um enorme
potencial de aplicação em diversas área, sendo uma
delas, a educação. O uso que se fará desta tecnologia
dependerá da forma com que forem projetados e implementados, bem
como do enganjamento de professores e alunos nestes verdadeiros mundos
virtuais.
Ao identificarmos alguns aspectos relacionados com estes ambientes, cremos
ter identificadas naqueles aspectos, sejam eles cognitivos ou tecnológicos,
excelentes oportunidades para a pesquisa de fatores relacionados à
aprendizagem humana, possibiltando a construção e o uso efetivo
destes ambientes na formação do conhecimento.
[Battro69] | Battro, A. M, El pensamiento de Jean Piaget, Edic. M.C., Barcelona, 1969 |
[Barbel77] | Barbel, I., Bover, M., Sinclair, H., Aprendizagem e estruturas do conhecimento, Edição Saraiva, 1977 |
[Becker93] | Becker, F., Da ação à operação. O caminho da aprendizagem em J. Piaget e P. Freire, Palmarinca, 1993 |
[Camacho96] | Camacho, M. L. M., Realidade Virtual e Educação, 1996, http://penta2.ufrgs.br/projetos/upload/files/rved.htm |
[Damer98] | Damer, B., Avatars!, Exploring and Building Virtual Worlds on the Internet, Peachpit Press, 1998 |
[Dede93] | Dede, C., The Evolution of Constructivist Learning Environments: Immersion in Distribuited, Virtual Worlds, 1993 |
[Lajonquière92] | Lajonquière, L., De Piaget a Freud. A (psico)pedagogia entre o conhecimento e o saber. Editora Vozes, 1992 |
[Minguet98] | Minguet, P. A. (org), A construção do conhecimento na educação, ArtMed, 1998 |
[Montangero98] | Montangero, J., Maurice-Naville, D., Piaget ou Inteligência em Evolução, Artmed, 1998 |
[Piaget77a] | Piaget, P., A Tomada de Consciência, Edições Melhoramentos/Editora da Universidade de São Paulo, 1977 |
[Piaget77b] | Piaget, P., O desenvolvimento do pensamento. Equilibração das Estruturas Cognitivas, Publicações Dom Quixote, 1977 |
[Piaget78] | Piaget, P., Fazer e Compreender, Edições Melhoramentos/Editora da Universidade de São Paulo, 1978 |
Piaget96] | Piaget, J., Biologia e Conhecimento, Editora Vozes, 2ª edição, 1996 |