UM PEQUENO ESTUDO SOBRE PAR TRANÇADO

Mauro Lúcio Baioneta Nogueira
Cristina Melchiors

JUNHO, 1996

1 Introdução
2 Par Trançado
2.1 Cabos STP
2.2 Cabos UTP
3 Considereções Atuais sobre UTP/STP
3.1 Níveis de EMI (Eletromagnetic Interference)
3.2 Fornecimento versus Demanda - estoques baixos ameaçam UTP Categoria 5
3.3 Problemas com a Instalacão de UTP Categoria 5
3.4 Conclusões
4 Aplicações de Produtos em um Projeto de Cabeamento
5 Bibliografia


1. Introdução

"Cabo é cabo, não é mesmo?" , o Novato perguntava. "Não", Willy respondia pacientemente. "Você não pode simplesmente ignorar as leis da física. Segundo estas leis, há muitas diferenças entre cabos deste tipo, por causa dos condutores, do tipo de isolamento entre eles, de sua organização dentro da tubulação, de sua capacidade de neutralizar o ruído externo". Derfley, J.F. e Freed, L.- Tudo sobre Cabeamento de Redes

Em um projeto de redes, vários fatores têm que ser levados em consideração, desde os aplicativos necessários às exigências dos usuários, passando pela demanda de recursos que estes aplicativos consumirão até o tipo de cabeamento e infra-estrutura que serão utilizados. Tudo tem que ser projetado de maneira eficiente e racional, ou seja, todas as necessidades têm que ser supridas a um custo mínimo permitindo ainda futuras expansões e reavaliações do projeto.

Em comparação com os outros investimentos que se fará a fim de implantar um determinado projeto de redes, o cabeamento será o que terá a maior duração. Os softwares costumam passar por uma evolução a cada dois ou três anos e, de acordo com pesquisas, o hardware tem uma vida útil de 5 anos; no entanto, terá que se conviver 15 anos ou mais com seu cabeamento de rede. O investimento feito em um sistema de cabeamento irá pagar dividendos durante anos, mas o nível de retorno dependerá do cuidado com o qual se selecionam os componentes e se supervisiona a instalação dos cabos [DER94]. Segundo pesquisas realizadas pela Infonetics, entre as causas para o downtime de uma rede, 70% dos casos são provocados por um cabeamento mal projetado. perguntar juergen sobre fonte de ref. bibs Dados colhidos pela LAN Technology informam que uma rede de porte médio apresenta 23,6 paradas por ano em média, com um total de 4,9 horas inoperantes. Como o custo de uma hora parada é estimado entre 1.000 e 20.000 reais, o controle do downtime poderia reduzir em muito os custos por ociosidade [ROC96].

Com isto, é de vital importância determinar corretamente o tipo de cabeamento que interconectará os vários elementos integrantes de uma rede. Quase sempre, a especificação do cabeamento delimita ou determina quais tecnologias são passíveis de serem utilizadas. Um exemplo clássico para isso é a restrição imposta pelo parque já instalado de UTP Categoria 3 à migração para tecnologias de altas taxas de transmissão, tais como ATM 155Mbits/s ou Fast Ethernet.

O projeto de cabeamento não envolve somente considerações sobre taxas de transmissão e largura de banda, mas também facilidade de instalação, imunidade a ruídos, limites de emissão eletromagnética, qualidade (atenuação do sinal versus comprimento máximo), confiabilidade, conformidade às exigências geográficas, conformidade aos padrões internacionais, disponibilidade de componentes e custo total [SOA96].

O cabeamento é o componente de menor custo de uma rede local. Quando bem estruturado pode representar de 5 a 7% do custo total da rede. Os preços variam muito de acordo com o tipo de cabeamento utilizado [ROC96].

Entre os cabeamentos mais utilizados pelas LANs podemos citar:

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2. Par Trançado

O cabo de par trançado é composto por pares de fios. Os fios de um par são enrolados em espiral a fim de, através do efeito de cancelamento, reduzir o ruído e manter constante as propriedades elétricas do meio por toda a sua extensão. O efeito de cancelamento reduz a diafonia entre os pares de fios e diminui o nível de interferência eletromagnética/radiofrequência [SOA96] [TAN94]. O número de tranças nos fios pode ser variado a fim de reduzir o acoplamento elétrico [DER94].

Podemos dividir os pares trançados entre aqueles que possuem uma blindagem especial (STP - Shielded Twisted Pair) e aqueles que não a possuem (UTP - Unshielded Twisted Pair).

2.1. Cabos STP

Um cabo STP, além de possuir uma malha blindada global que confere uma maior imunidade às inteferências externas eletromagnética/radiofrequência, possui uma blindagem interna envolvendo cada par trançado componente do cabo cujo objetivo é reduzir a diafonia. Um cabo STP geralmente possui dois pares trançados blindados, uma impedância característica de 150 Ohms e pode alcançar uma largura de banda de 300 MHz em 100 metros de cabo.

Figura 1 - Seção de cabo STP

O cabo STP é adotado pela IBM para interconexão entre os elementos integrantes de sua rede. Entre os padrões industriais adotados, a classificação em tipos definida pela IBM constitui-se numa nomenclatura bastante utilizada na especificação destes cabos, sendo ela: 1, 1A, 2, 2A, 6, 6A, 9, 9A. Estes tipos apresentam diferentes características no que se refere à combinação de alguns parâmetros como diâmetro do condutor e material utilizado na blindagem.

Figura 2 - Cabo STP patch [BER96]

Vale observar que, ao contrário do que acontece com cabos coaxiais, a blindagem nos STPs de 150 Ohms não faz parte do caminho percorrido pelo sinal mas é aterrado nas suas duas extremidades. Isto tem a vantagem de possibilitar uma taxa de sinalização muito alta, com poucas chances de distorção do sinal mas, por outro lado, tal tipo de blindagem ocasiona uma perda do sinal que exige um espaçamento maior entre os pares de fios internos ao cabo e a blindagem. O maior volume de blindagem e isolamento aumenta consideravelmente o peso, o tamanho e o custo do cabo. Poucos cabos STP são suficientes para preencher um duto de fiação de um prédio [DER94].

Não é fácil aterrar cabos STP de forma adequada, especialmente se se quiser usar hubs de fiação antigos não projetados para STP. Neste caso, se a blindagem não for aterrada em uma das extremidades, ela se transformará em uma antena multiplicando os problemas de interferência.

2.2. Cabos UTP

Com o aumento das taxas de transmissão, cabos de par trançado de melhor qualidade foram sendo produzidos. O alto desempenho em termos de qualidade alcançados pelos pares trançados não blindados (UTP), aliado ao baixo custo de aquisição e instalação dos mesmos, fez com que se torna-se necessário, ou natural, uma pressão por padronização tanto por parte dos projetistas, que queriam certezas sobre os parâmetros característicos destes cabos, quanto por parte dos fabricantes de equipamentos, que os utilizavam em suas composições e precisavam de garantias confiáveis de desempenho [ROC96].

Figura 3 - Seção de cabo UTP

A EIA/TIA (Electronic Industries Association/Telecommunication Industry Association) levou a cabo a tarefa de padronização dos cabos UTP através da recomendação 568. Os cabos UTP foram divididos em 5 categorias no que se refere a:


Impedância
(Bitola AWG)
Referência
(Banda passante 100m)
Aplicações
(Telefonia e Dados)
150 Ohms
(26 AWG)
EIA/TIA Cat.1 Telefonia Analógia (4 KHz)
Telefonia Digial (64 Kbit/s)
100 Ohms
(26 AWG)
EIA/TIA Cat.2
(até 1 MHz)
ISDN Dados (2.046 Mbit/s)
IBM 3270, 3X, AS 400
100 Ohms
UTP (24 AWG)
EIA/TIA Cat.3
NEMA 100-24-STD
(até 16 MHz) UL nível III
IEEE 10BaseT
Token Ring(4 Mbit/s)
Ethernet(10 Mbit/s)
100 Ohms
UTP baixa perda (24 AWG)
EIA/TIA Cat. 4
NEMA 100-24-LL
(até 20 MHz) UL nível IV
IEEE 10BaseT
Token Ring(4 MBit/s e 16 Mbit/s)
Ethernet(10Mbit/s)
100 Ohms
UTP freqüencia estendida
(24 AWG)
EIA/TIA Cat.5
NEMA 100-24-XF
(até 100 MHz) UL nível V
IEEE 10BaseT e 100BaseT
Token Ring(4 Mbit/s e 16 Mbit/s)
100 Mbit/s TPDDI/CDDI

Tabela 1 - Categorias UTP

Legenda:

AWG: American Wire Guage
CDDI: Copper Data Distributed Interface
IEEE: Institute of Eletrical and Eletronic Engineers
EIA/TIA: Eletronic Industry Association/Telecom. Ind. Association
NEMA: National Eletrical Manufactures Association
STP: Shielded Twisted Pair
TPDDI: Twisted Pair Data Distributed Interface
UL: Underwriter's Laboratories
UTP: Unshield Twisted Pair


Apesar de cabos UTP serem muito populares, algumas de suas vantagens potenciais mais celebradas, como a facilidade de instalação e o baixo custo, não sobrevivem a uma observação cuidadosa. Com certeza, é necessário menos treinamento e equipamento para instalar UTP do que um cabo de fibra ótica. No entanto, ainda são necessários muito cuidado e habilidade para instalar um sistema UTP para transportar de forma confiável dados que se movam a mais de 10 Mbit/s. Os novos padrões falam de cabos UTP a 100 Mbit/s, mas estes esquemas têm que ser cuidadosamente planejados e instalados.

É verdade que o UTP custa menos por metro do que qualquer outro tipo de cabo de rede local, mas a despesa com material é a menos significativa em qualquer instalação pois a mão de obra é o elemento mais caro. Como está se tornando comum a utilização de cabos coaxiais de 75 Ohms para transmissão de TV a cabo, os custos de mão de obra com técnicas de instalação para estes cabos e para a própria fibra ótica estão caindo muito. É de se questionar o valor a ser pago por uma boa instalação de UTP, obedecendo rígidas normas de segurança e desempenho (ver seção seguinte) [DER94].

Figura 4 - Cabo UTP path [BER96]

Uma grande vantagem do UTP que não pode ser desprezada é a flexibilidade e a espessura dos cabos. O UTP não preenche os dutos de fiação com tanta rapidez como os outros cabos, salvo a conhecida exceção da fibra ótica. Isto aumenta o número de conexões possíveis sem diminuir seriamente o espaço útil ou exigir onerosos projetos de alteração das instalações físicas disponíveis.

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3.Considerações atuais sobre UTP/STP

3.1. Níveis de EMI (Eletromagnetic Interference)

Uma nova diretiva cujo objetivo é estabelecer um padrão europeu único para controle de interferência eletromagnética (EMI -- Electromagnetic Interference) gerada pelos equipamentos elétricos está acabando com os planos dos projetistas de redes de instalar cabos UTP que acomodem tráfego LAN de alta velocidade. O maior problema levantado pelas novas regulamentações que entraram em vigor no início de 1996 diz respeito ao par trançado não blindado Categoria 5, que surgira até então como o meio de transmissão de mais baixo custo capaz de comportar tráfego de alta velocidade como FastEthernet ou ATM [GRE96].

Cada parte de um equipamento eletricamente carregado transmite e recebe EMI porque todos os condutores tem a potencialidade de agir como antenas de rádio, sejam eles finos filamentos em uma placa de circuito ou extensões de cabos. Em geral, em freqüências elevadas, os condutores se aproximam ainda mais do comportamento de uma antena, o que explica porque os problemas de emissão de EMI se agravam em redes que operam em altas velocidades. Quando a emissão de EMI ultrapassa determinados limites ela pode causar uma série de problemas que nunca são notados de imediato, tais como degradação de desempenho, falhas em software, corrupção de dados. Deve-se observar no entanto que, apesar de indesejável, pesquisas concluíram que as emissões de EMI da maioria dos equipamentos elétricos estão bem abaixo de níveis que poderiam ser considerados prejudiciais à saúde.

As novas normas, especificadas como parte das diretivas de compatibilidade eletromagnética (EMC -- Eletromagnetic Compatibility) da Comissão da Comunidade Européia (CEC), impuseram limites para a quantidade de EMI gerada por equipamentos elétricos incluindo cabeamento de prédios.

A medição dos limites de EMI para o cabeamento não é uma tarefa fácil visto que, sendo o cabo um elemento passivo, este irradia EMI somente quando sinais são transmitidos por equipamentos conectados a uma de suas extremidades. As diretivas de EMC exigem que o cabeamento seja testado junto com os equipamentos. Isto faz com que, caso os usuários optem por um tipo de cabeamento, tenham de adquirir os equipamentos que foram aprovados para o tipo que escolheram.

No entanto, nem sempre a aquisição de equipamentos aprovados para um determinado tipo de cabo garante emissões de EMI abaixo do permitido, já que a fiação utilizada nos testes nunca é exatamente igual à utilizada no mundo real. Isto é particularmente verdadeiro para cabos UTP -- cabos compostos de 4 pares trançados de fios de cobre com impedância característica de 100 Ohms, protegidos por um revestimento de PVC. A fim de suprimir as emissões de EMI, estes cabos utilizam somente o efeito de cancelamento balanceado no qual sinais de polaridade oposta são enviados pelo cabo. Caso os sinais sejam perfeitamente balanceados, eles se cancelam mutuamente eliminando a tendência do cabo de agir como uma antena de rádio.

Cabos UTP fornecidos por fabricantes interessados em conseguir o selo de conformidade do CEC podem possuir um balanceamento perfeito para a extensão testada, que desapareceria frente a testes em um ambiente real onde objetos metálicos próximos ao cabo poderiam causar desbalanceamento nas linhas de transmissão. Além disso, outros parâmetros poderiam variar do ambiente de teste para o mundo real, tais como conectores e comprimento do cabo. Por fim, uma má instalação dos cabos também poderia provocar futuras perturbações no balanceamento e criar níveis mais altos de EMI.

Assim, sem uma forma de se medir as emissões de EMI dos cabos UTP antes de toda a infra-estrutura estar pronta, os projetistas não têm condições objetivas de averiguar se uma determinada planta de cabeamento está dentro das especificações. Para agravar a questão, as diretivas de EMC da CEC permitem que fiscais coloquem fora do ar as redes que excederem os limites de EMI.

Ainda há bastantes dúvidas sobre o desempenho real de cada um dos tipos de cabeamento. Parece haver um favorecimento por parte dos vendedores, quando o assunto é a emissão de EMI de seus produtos. Os resultados encontrados pelos fabricantes para diferentes tipos de cabeamento não concordam entre si. A AT&T, grande fabricante de UTP Categoria 5, diz ser capaz de suportar tráfego ATM a 155 Mbit/s sobre seus produtos sem exceder os limites de EMI. Já os resultados da European Network Laboratories (ENL, Paris) afirmam o contrário atestando que, sob tráfego FastEthernet 100 Mbit/s o nível de radiação EMI emanada pelos UTP Categoria 5 ultrapassa o limite de 40 db permitido, enquanto que o nível de radiação para os STP se situa na casa dos 20 db. Embora a ENL seja uma organização independente de vendedores, os testes foram encomendados pela Alcatel Cable S.A., fabricante de cabeamento STP. Outros resultados que vão contra as conclusões dos testes da AT&T são os fornecidos pela ITT Network Systems and Service, indicando a impossibilidade para os cabos UTP Categoria 5 de suportar tráfego ATM 155 Mbit/s sem exceder os limites de EMI ditados pelas diretivas EMC [GRE96].

3.2. Fornecimento versus Demanda - estoques baixos ameaçam UTP Cat.5

O suprimento disponível do UTP Categoria 5 resistente ao fogo está perigosamente próximo de terminar. Uma crise mundial na produção da resina fluorpolimerada, componente essencial dos cabos UTP Categoria 5 Plenum, ameaça desbancar este tipo de cabeamento como o preferido entre os projetistas de rede por seu baixo custo, facilidade de instalação e alto desempenho [SAU95].

A resina fluorpolimerada utilizada para isolar os fios de cobre, o propileno-etileno-fluoretado, possui duas propriedades que a fazem um componente essencial dos cabos UTP Categoria 5 Plenum: é um isolante elétrico extremamente eficiente, que controla os níveis de radiação eletromagnética, mesmo quando o cabo é submetido a taxas de transferência elevadas, tais como 100 Mbit/s; é resistente ao fogo, tornando o cabo extremamente seguro quando colocado nas instalações dos edifícios.

Não é esperado que as coisas venham a melhorar dentro em breve, pois as duas únicas companhias no mundo fabricantes do propileno-etileno-fluoretado não têm planos de expansão de produção imediatos. A DuPont, produtora de cerca de 90% do componente crítico, concluirá o seu programa de expansão de 150 milhões de dólares somente em 1997. Transformar antigas fábricas em produtoras do polímero não é algo trivial, e mesmo quando as novas instalações estiverem prontas demorará cerca de um ano e meio para conseguir atender a todas as ordens de pedido acumuladas [SAU95].

Como poucos projetistas estão dispostos a esperar pelo desfecho desta crise, que não ocorrerá, como foi dito, antes de 1997, para retirar das prateleiras os projetos de recabeamento de seus clientes, novas opções terão de ser consideradas.

3.3. Problemas com a verificação de uma instalação de UTP Categoria 5

Os primeiros problemas levantados para o cabeamento UTP Categoria 5 começaram a surgir em 1994, quando usuários, ao tentar trafegar dados FDDI a 100 Mbit/s sobre estes cabos, observaram uma degradação do desempenho causada por interferência eletromagnética excessiva - EMI (ver texto acima). Os motivos apontados foram técnicas de instalação imprópria para este tipo de cabo. A controvérsia sobre instalações de UTP Categoria 5 incitaram os fabricantes de equipamentos de teste a lançarem vários produtos no mercado. Estes produtos tinham como propósito eliminar as incertezas sobre problemas no cabeamento UTP Categoria 5 ao permitir aos usuários que se certificassem sobre seu parque instalado. No entanto alguns destes produtos só pioraram a situação ao fornecerem informações equivocadas, que foram causas muitas das vezes de onerosos gastos com reinstalações desnecessárias [PRE95].

Os analisadores de instalação não se deram muito bem ao tentar levar uma política de testes feitas sob condições de laboratório especificadas pelo TIA para o mundo real. Visando esclarecer o assunto de verificações de instalações o TIA publicou o documento TSB67 cujo objetivo era definir o conjunto de testes a ser executado pelos dispositivos e o grau de acuidade exigido pelos testes. Até agosto de 1995, data da publicação da referência bibliográfica utilizada para construir este parágrafo, a nenhuma conclusão tinham chegado os debates acerca do nível de precisão dos equipamentos de teste. Alguns vendedores de equipamentos argumentam que mesmo o nível de maior precisão estabelecido pelo TSB67 não é suficiente quando o assunto são redes ATM de alta velocidade [PRE95].

De fato, a questão ATM vai bem além dos equipamentos de teste quando se trata de exigências de desempenho por parte do cabeamento. As especificações de desempenho TIA/EIA 568 para o UTP Categoria 5 cobrem somente frequências de até 100 MHz, o que, sendo suficiente para lidar com protocolos de 100 Mbit/s como FDDI, 100BaseT e 100VG-AnyLAN, não é para as exigências dos novos adaptadores e switches ATM que utilizam frequências mais altas.

3.4. Conclusões

A principal conclusão que podemos tirar dos fatos apresentados nas três subseções anteriores é que não devemos nos fiar somente em cabeamento UTP Categoria 5. O que era a maior promessa e esperança para um projeto de cabeamento barato, que não exigisse muito em termos de mão-de-obra e instalações físicas disponíveis, acabou se tornando um pesadelo. A falta de um dos componentes críticos e, por conseguinte, a falta do próprio cabo UTP Categoria 5, aliada aos problemas relacionados à elevada emissão de EMI quando em altas velocidades ou quando inadequadamente instalado, levou os projetistas a considerarem outras opções.

A fibra ótica é o mais promissor tipo de cabeamento para o futuro. Até hoje, o principal fator para a não utilização da fibra ótica nos projetos é o elevado custo do cabo, da instalação, dos conectores e dos outros dispositivos que a utilizam. No entanto, a tendência de preços do mercado nos últimos anos indica que esta razão não vai se manter por muito tempo [SAU95]. Os preços para o cabo de fibra ótica convencional e os respectivos produtos de conexão caíram drasticamente e em alguns casos é cerca de somente 30% a mais dos custos dos cabos de cobre UTP Categoria 5 e seus conectores. Caso a falta no suprimento de Categoria 5 persista, elevando o preço do produto, muito em breve será indiferente em termos de custos optar entre os esquemas que o adotam e os que adotam fibra ótica [PRE95].

Entre as vantagens da fibra se pode citar o fato de poderem transportar dados a maiores distâncias (de centenas de metros a quilômetros), mais rápido (a vários Gbit/s) e de maneira completamente imune a interferência eletromagnética. Além dos requisitos de desempenho, outro fator importante a ser considerado é a disponibilidade do produto no mercado [DER94].

O interesse pela fibra foi estimulado também pela chegada de um cabo de fibra de plástico de alto desempenho, cujo preço, incluso os conectores, é similar ao do UTP Categoria 5. Esta fibra plástica, chamada GIPOF (Graded Index Plastic Optical Fiber), reduz a perda de sinal das antigas fibras plásticas e já está sendo comercializada. Um cabo de GIPOF pode transmitir, segundo os fabricantes, dados FDDI a 100 Mbit/s por 150 m [PRE95].

Outra opção freqüentemente utilizada pelos projetistas é a família UTP modificada. Entre os membros da família podemos citar o ScTP (Screened Twisted Pair), também referenciado como FTP (Foil Twisted Pair); o SFTP (Shielded Foil Twisted Pair); e por fim, o UTP Categoria 5 Nonplenum, que não possui resistência ao fogo.

Algumas instalações começaram a utilizar o cabeamento UTP Categoria 5 Non-Plenum onde fosse legalmente permitido, mas isto nem sempre é possível haja vista a existência de normas por parte de vários governos que exigem cabeamento a prova de fogo instalado em todas as partes do edifício onde há circulação de ar, tais como piso e forração. A fim de instalar o cabeamento UTP Categoria 5 Non-Plenum por todo o edificio, é necessário que o cabo corra por dentro de uma tubulação a prova de fogo. Novamente o problema são gastos, pois tal tubulação encarecerá o custo total de instalação em cerca de 35 a 40%, dificultando também alterações e expansões futuras, além de não contribuir para o controle de EMI [SAU95].

O cabo ScTP (FTP) é outra alternativa, embora somente enquanto os suprimentos durarem, visto que os pares de fios de cobre deste cabo são cobertos pelo mesmo composto do UTP Categoria 5 Plenum. Para este tipo de cabo, no entanto, uma película extra de metal é enrolada em torno de todos os pares trançados, que contribui para o controle de EMI, embora exija maiores cuidados quanto ao aterramento. Há um grande estoque destes cabos nos EUA, visto que não foi muito grande até o momento sua aceitação. Para o cabo SFTP, além da película de metal do cabo FTP, uma blindagem trançada de metal é adicionada, que reforça ainda mais o controle de EMI e facilita o aterramento [PRE95][SAU95][GRE96].

Além dos cabos acimas mencionados, a família UTP foi ganhando sofisticações que a aproximaram da STP. Como um cabo UTP convencional, os cabos S/STP (Shielded STP) e F/STP (Foil STP) possuem quatro pares de fios de cobre trançados com impedâncias características de 100 Ohms, ao invés dos dois pares de cobre de 150 Ohms de impedância encontrados comumente nos cabos STP. Estas duas categorias possuem uma blindagem de metal ao redor de cada um dos pares trançados, sendo todos os pares revestidos ou por uma blindagem trançada (S/STP), ou por uma película de metal (F/STP). Ambas as categorias reduzem em grandes quantidades emissões de EMI, visto poderem operar mesmo em altas frequências [GRE96].

UTP FTP SFTP S/STP F/STP
Preço (em Us$) por Km $200 a $300 $280 a $420 $460 a $690 $700 a $1050 $585 a $875
Máxima Freqüencia Típica 30 MHz 62.5 MHz 100 MHz 300 MHz 300 MHz
Espessura (em mm) 5,1 6,2 6,5 7,3 7,0
Instalação Fácil Fácil Fácil Difícil Difícil
Aterramento Não Aplicável Difícil Fácil Fácil Difícil

Tabela 2 - Tabela 2 - Opções de Cabos Par Trançado [GRE96]

O cabo STP, explicado anteriormente, gera contradições quanto ao seu índice de irradiação de EMI. Resultados obtidos pelos próprios fabricantes do produto, ou por laboratórios contratados por estes fabricantes (European Network Laboratories / ITT Canon Network Systems and Services), apresentam melhoras nos níveis de EMI enquanto que, para os fabricantes de UTP Categoria 5 (AT&T), os resultados apontam para problemas técnicos, como o aterramento adequado da blindagem, que em nada contribuem para a conformância do cabeamento STP para com o EMC [GRE96]. Quanto à disponibilidade, os projetistas podem ficar despreocupados pois o propileno-etileno-fluoretado não faz parte da composição do produto [PRE95][SAU95]. Entre prováveis razões para não se usar o STP podemos citar a dificuldade de instalação devido a espessura e rigidez dos cabos e custo elevado [DER94].

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4. Aplicações de produtos em um projeto de cabeamento

Ao se fazer um projeto segundo as regras do padrão EIA/TIA 568 de Cabeamento Estruturado, divide-se a planta em seis subsistemas funcionais, cada qual com seu propósito específico e bem definido, sendo eles:

Os subsistemas Facilidades de Entrada, Sala de Equipamentos, Armários de Distribuição e Área de Trabalho representam locais físicos da planta, cada qual com sua função específica e equipamentos apropriados. A interligação entre estes locais/subsistemas é feita através dos subsistemas Cabeamento Vertical e Cabeamento Horizontal que definem entre outras coisas, os produtos adequados às exigências de conectividade, facilidade de instalação, desempenho, confiabilidade, fatores de segurança - baixa emissão de fumaça, etc.

O Cabeamento Vertical, ou backbone, é o que provê a ligação dos armários de Distribuição com a Sala Central de Equipamentos, sendo constituído dos meios de transmissão, seus conectores e terminações. Para este subsistema é recomendado utilizar fibra ótica multimodo de 62.5/125 microns, par trançado UTP de 100 Ohms, par trançado STP de 150 Ohms e cabo co-axial de 50 Ohms, sendo ainda indicado para aplicações especiais os cabos fibra multimodo tipo 50/125 ou 100/140 microns, fibra monomodo e par trançado STP de 100 Ohms.

Figura 5 - Cabo UTP para Backbone [BER96]

Como exemplos dos produtos de par trançado oferecidos comercialmente que poderiam ser utilizados para este subsistema estão os cabos multipares UTP oferecidos pela Berk-Tek. A melhor solução que a empresa indica para backbone UTP é o cabo BerkTek's UL verified 25 pair ULTRA-Grade Categoria 5, e para backbones utilizando cabeamento STP os cabos IBM Type 1 e Type 2, indicados para transmitir longas distâncias entre equipamentos, protegendo os dados de ruídos dos arredores e interferências.

Figura 6 - Cabo STP para Backbone [BER96]

O Cabeamento Horizontal proporciona a ligação do Armário de Distribuição até a Área de Trabalho, que corresponde à área onde estão os terminais dos usuários, incluindo as tomadas da Área de Trabalho. Recomenda-se para este cabeamento 4 tipos de cabos: 4 pares trançados tipo UTP/100 Ohms com bitola de 24 AWG; 2 pares trançados tipo STP/150 Ohms com bitola de 22 AWG; cabo co-axial de 50 Ohms e fibra multimodo de 62.5/125 microns. Para aplicações especiais são recomendados os cabos de 4 pares trançados tipo STP/100 Ohms com bitola de 24 AWG e também o cabo co-axial de banda larga de 75 Ohms.

Figura 7 - Cabos UTP para Cabeamento Horizontal [BER96]

Como exemplos de cabos indicados para cabeamento vertical citamos os cabos UTP Hyper e ULTRA-Grade Categoria 5, da Berk-Tek, oferecidos nas versões Plenum e Non-Plenum.

Figura 8 - Cabos STP para Cabeamento Horizontal [BER96]

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5. Bibliografia

[BER96] BERK-TEK Inc. Berk-Tek Informations Page, http://www.hlkind.com/man/man16.htm, obtido em Maio 1996

[DER94] DERFLEY, J.F., FREED,L.Tudo sobre Cabeamento de Redes. Rio de Janeiro:Campus, 1994.

[GRE96] GREENFIELD, DAVID, Wire Act Leave LANs Dangling, DATA COMMUNICATIONS, Fevereiro 1996, pp. 64A-64D.

[PRE95] Premises Wiring - More net managers are looking for...,DATA COMMUNICATIONS, Agosto 1995, pp. 239-244.

[ROC96] ROCHOL, J. Notas e lâminas de aula, Disciplina Projeto de Redes, UFRGS, 1996.

[SAU95] SAUNDERS, STEPHEN, Category 5 UTP: Going, Going, Gone, DATA COMMUNICATIONS, Março 1995, pp. 57-60.

[SOA95] SOARES, L. F. G., COLCHER, S., LEMOS, G., Rede de Computadores.Das LANs, MANs e WANs às Redes ATM. Rio de Janeiro:Campus, 1995.

[TAN94] TANENBAUM. A. S., Redes de Computadores. Rio de Janeiro:Campus, 1994.

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Desenvolvido por
Mauro Lúcio Baioneta Nogueira e Cristina Melchiors


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