Educação a distância por videoconferência Texto adaptado e complementado a partir do artigo "Educação a distância por videoconferência". Cruz, D.M., Barcia, R.M. Tecnologia Educacional, ano XXVIII, n. 150/151, julho/dezembro, 2000, p. 3-10. Sumário
No final da década de 90. a videoconferência tem aparecido como uma alternativa para instituições educacionais oferecerem cursos a distância no Brasil. A possibilidade aberta pela LDB de considerar as aulas por videoconferência dentro dos mesmos parâmetros que a educação presencial está gerando a procura principalmente de cursos de pós-graduação. Tendo em vista a necessidade de preparação de professores para ministrarem estes cursos, este artigo pretende levantar os principais aspectos relacionados ao ensino por essa modalidade a distância. O artigo pretende servir como um guia básico não só para docentes, mas também para administradores educacionais interessados na implantação do ensino a distância por videoconferência em suas instituições. Uma das definições mais amplamente aceitas conceitua Educação a Distância como a comunicação em duas vias entre professor e aluno separados por uma distância geográfica durante a maior parte do processo de aprendizagem, utilizando algum tipo de tecnologia para facilitar e apoiar o processo educacional bem como permitir a distribuição do conteúdo do curso. As tecnologias de comunicação utilizadas atualmente são cada vez mais interativas e se constituem numa ferramenta valiosa para alcançar estudantes dispersos por grandes territórios e/ou afastados dos centros educacionais. Videoconferência x teleconferência A teleconferência consiste na geração via satélite de palestras, apresentações de expositores ou aulas com a possibilidade de interação via fax, telefone ou Internet. O conferencista ou professor faz sua apresentação de um estúdio de televisão. Fala "ao vivo" para seu público alvo, que recebe a imagem em um aparelho de televisão conectado a uma antena parabólica sintonizada em um canal pré-determinado. Teleconferência por satélite é essencialmente uma via de vídeo e uma via de aúdio simultâneas, com a utilização de uma via de áudio ou fax como retorno para perguntas ou opiniões. Possibilita disseminar informações a um largo número de pontos geograficamente dispersos, já que o acesso via satélite beneficia as comunicações em longa distância. Das tecnologias utilizadas no ensino a distância, a videoconferência é a que mais se aproxima de uma situação convencional da sala de aula, já que, ao contrário da teleconferência, possibilita a conversa em duas vias, permitindo que o processo de ensino/aprendizagem ocorra em tempo real (on-line) e possa ser interativo, entre pessoas que podem se ver e ouvir simultaneamente. Devido às ferrametnas didáticas disponíveis no sistema, ao mesmo tempo em que o professor explica um conceito, pode acrescentar outros recursos pedagógicos tais como gráficos, projeção de vídeos, pesquisa na Internet, imagens bidimensionais em papel ou transparências, arquivos de computador, etc. O sistema permite ainda ao aluno das salas distantes tirar suas dúvidas e interagir com o professor no momento da aula, utilizando os mesmos recursos pedagógicos para a comunicação. Videoconferência é assim: uma tecnologia que permite que grupos distantes, situados em dois ou mais lugares geograficamente diferentes, comuniquem-se "face a face", através de sinais de áudio e vídeo, recriando, a distância, as condições de um encontro entre pessoas. A transmissão pode acontecer tanto por satélite, como pelo envio dos sinais comprimidos de áudio e vídeo, através de linhas telefônicas. Dos equipamentos em uso atualmente, pode-se classificar a videoconferência basicamente em dois formatos: desktop ou sala. O desktop refere-se a comunicação através de uma pequena câmera e um microfone acoplados a um computador. Neste caso, as pessoas se comunicam pela Internet através de softwares, muitos deles disponíveis gratuitamente na própria rede, como é o exemplo do caso do Cu-SeeMe. No final da década de 90, a qualidade de transmissão de áudio e vídeo nesse processo de comunicação é muito baixa. As salas de videoconferência podem ser utilizadas em três formatos: tele-reunião, teleducação e sala de geração, onde atua apenas o professor. A sala de tele-reunião, mais usada pelo meio empresarial, pode utilizar uma mesa de formato oval ou trapezoidal, ocupando a parte central da sala, permitindo a interação entre pessoas de uma mesma sala com as de uma sala remota. A sala de teleducação pode ter um formato semelhante ao de uma sala de aula tradicional ou ser construída como um local apenas de transmissão para o professor a distância. No primeiro caso, as cadeiras são dispostas em colunas voltadas para a frente da sala. Ali, em geral, fica a mesa com os periféricos e os monitores. Se a sala tem função de recepção, ou seja, apenas alunos participam das sessões, pode-se ter apenas uma câmera colocada acima do monitor de TV e voltada para os estudantes. Se a sala tem a função de transmitir aulas a distância, mas conta com a presença no local de professores e alunos, é necessária a instalação de duas câmeras. Uma das câmeras, voltada pra os alunos, é colocada sobre os monitores de TV. A outra câmera, que acompanha o professor, deve ser colocada no lado opost, de frente para ele. Recomenda-se que as salas sejam estruturadas de forma flexível (possibilitando mudanças, por exemplo, para reuniões de grupo, apresentação de seminários, etc.). Para garantir qualidade de interação e de aprendizagem é preferível matner um limite máximo de 30 alunos. No caso da sala voltada apenas para a transmissão, o equipamento de videoconferência e os periféricos são colocados de frente para um monitor de TV, que tem, acima dele, a câmera da sala. O objetivo é permitir que o professor ou palestrante tenha todos os recursos audiovisuais a sua disposição sem que tenha que se mover para isso. Este formato de sala é desenhado para instituições que gerem cursos exclusivamente para alunos a distância. É preciso ter um cuidado especial com o cenário que envolve o professor. Para que seja eficiente, deve ser esteticamente agradável, de desenho limpo e simples, de modo a não distrair a atenção da audiência. Nas três categorias de salas, a iluminação deve ser do tipo difusa e uniforme, de modo a clarear sem ofuscar. As paredes e a mobília devem evitar cores muito escuras ou muito claras. É importante eliminar ao máximo o ruído vindo do exterior, através de um isolamento acústico das paredes. O ar condicionado deve ser o mais silencioso possível. Tipos de transmissão por videoconferência O tipo mais simples de videoconferência é a que liga duas salas, ou ponto-a-ponto. As pessoas de cada sala vêem as da outra e a comunicação acontece diretamente, após a conexão ter sido realizada. A comunicação é bastante facilitada, já que todos podem ver/ser vistos e ouvir/ser ouvidos por todos os participantes. Em poucos minutos de transmissão, os interlocutores podem relaxar e, na maioria das vezes, esquecer que existe uma interface eletrônica propiciando o encontro. A videoconferência multiponto permite realizar uma reunião com um grande número de salas interligadas. Para isso, é necessário um comando multiplexador que reúne os vários sinais de cada sala em uma única conexão. Apesar de estarem todas interligadas, a tecnologia atual permite que cada sala veja apenas uma de cada vez e sempre aquela que "está no ar", ou seja, a que tem a palavra naquele momento. Isso porque o ponto que determina seu aparecimento na tela é aquele com mais atividade sonora ou definida por quem controla o sistema, que, no caso da aula, é o professor. Assim, a pessoa que fala tem sua imagem enviada para todas as outras salas. Por não poder ver todas as salas ao mesmo tempo, o professor precisa interagir de maneira dinâmica com todos os alunos, de modo que não perco o contato com eles, principalmente os mais calados ou menos participativos. Pode-se perceber que, mais que o ponto-a-ponto, o multiponto traz uma série de complicações tanto técnicas quanto pedagógicas, que crescem conforme aumenta o número de salas conectadas. Educação a distância por videoconferência A educação a distância por videoconferência pode ser considerada como uma alternativa de formação profissional tanto para empresas que querem treinar seus empregados como para instituições educacionais que querem capacitar seus professores. Em termos de vantagens econômicas, a videoconferência permite dispensar treinamento diretamente no local de trabalho ou nas instituições educacionais que possuam o equipamento necessário. O uso da videoconferência reduz os custos de transporte e de alojamento, além de evitar os deslocamentos tanto de alunos como de professores e a necessária substituição dos que saem para estudar. No caso do Brasil, com a verba necessária para mandar um professional-aluno estudar fora, é possível qualificar até 25 funcionários dentro do próprio local de trabalho (Veja, 16/06/99, p. 119). Cruz e Moraes (1998) listam algumas vantagens e desvantagens do uso da videoconferência na educação, tendo em vista o atual parâmetro tecnológico. Vantagens:
Desvantagens
As experiências de ensino a distância mostram que o uso da videoconferência motivapositivamente tanto alunos quanto professores. A expectativa de utilizar tecnologia de ponta na sala de aula traz, ao mesmo tempo, curiosidade e apreensão pela possiblidade de experimentar um jeito novo de ensinar e aprender. Representa principalmente um desafio para o professor, que precisa adaptar sua maneira de ensinar à nova dinâmica da aula. A grande pergunta que se coloca para quem vai ensinar por videoconferência é: como preparar essa nova aula? Ela terá que sermuito diferente da aula comum, presencial, em que todos os alunos estão na mesma sala, sem a necessidade da interface representada pela tela de TV? Que novas competências precisam ser adquiridas? Cyrs (1997) relaciona algumas das competências que o professor precisa desenvolver para ensinar através da videoconferência:
A preparação dos professores é fator primordial para o sucesso e a continuidade de qualquer programa de educação a distância. Isso porque, ao contrário do ensino face-a-face, os desafios para quem vai ensinar a distância são enormes. É preciso recriar o curso de uma nova maneira, deixar o papel de provedor para o de facilitar de conteúdos, adquirir segurança e eficiência ao usar a tecnologia como uma ligação principal entre alunos e professroes, aprender a ensinar efetivamente sem o controle visual proporcionado pelo contato "olho-no-olho" direto, desenvolver um entendimento e uma apreciação pelo estilo de vida dos estudantes a distância. Planejamento É preciso ter em mente que as aulas a distância pela videoconferência têm como base a aula presencial, mas colocam uma interface (câmeras e microfones) que media o contato do professor com os alunos. Fundamental é levantar em conta que o material didático a ser utilizado precisa estar a disposição dos alunos com antecedência para que eles se preparem anteriormente. Para evitar problemas, o professor pode escolher enviar todo o pacote a ser utilizado durante o curso de uma vez só ou prever pelo menos duas semanas de antecedência para que os alunos recebam e tenham tempo de trabalhar com o que for enviado durante o decorrer das aulas. O envio tanto poder feito pelo correio, como também ser colocado à disposição dos alunos através de um "site" ou página, criada especialmente para isso na Internet. Nessa página podem constar os arquivos que os alunos podem "baixar" da rede como também "links" ou endereços úteis que enriqueçam o conteúdo da disciplina ou abram perspectivas de pesquisa. Uma outra sugestão é a de abrir espaços na página para que os alunos publiquem seus trabalhos, tenham como se comunicar com o professor e outros colegas via e-mail ou ainda que possam participar de fóruns de disucsão assíncronos ou "chats" síncronos. Tanto essas atividades extras realizadas fora da sala de aula, como o formato do material didático, distribuição do conteúdo e dinâmicas internas de cada aula devem ser planejados cuidadosamente levando em conta duas situações específicas da educaçã a distância interativa: o tempo e a dedicação para a preparação, acompanhamento e correção de trabalhos dos alunos é muito maior; a linguagem audiovisual, característica dos cursos por videoconferência, determina o que é possivel ser feito durante a aula. A educação por videoconferência se diferencia da presencial por utilizar uma tecnologia audiovisual, o que equivale a dizer que as aulas podem ser identificadas com um programa de televisão feito ao vivo, com a participação da platéia presente no mesmo espaço ou em outros locais. Por esta razão, o planejamento da aula como um roteiro audiovisual é uma tarefa fundamental para o professor que vai trabalhar com a videoconferência. E como a "platéia" é a razão principal para que esse programa exista, é preciso planejar com muito cuidado a participação dos alunos, ou seja, incluí-los também como protagonistas no "roteiro" da aula. Para isso, pensar na aula com começo, meio e fim, pode ser útil na hora de planejar o que vai ser o curso como um todo, principalmente porque muita coisa precisa ser feita com antecedência e demanda tempo de pesquisa e/ou execução. O roteiro de cada encontro pode ser pensado de modo a criar momento de atividade para os alunos, lembrando sempre que a aula pela televisão é mais cansativa e menos variada em termos de estímulos sensoriais para os alunos. É preciso encontrar modos de recriar à distância o clima afetivo que existe em uma aula presencial, contando apenas com a tela da televisão e o som dos alto-falantes! É claro que, dada a variedade de conteúdos e métodos didáticos, cada professor vai buscar seu próprio jeito de trabalhar de acordo com sua experiência e necessidade. Pra aulas expositivas, por exemplo, uma sugestão é dividir o tempo em módulos de conteúdo com duração média de 10 minutos, abrindo espaços para perguntas em momentos deterinados e utilizando sempre que possível imagens para ilustrar os conceitos. Dinâmicas que envolvam participação ativa dos alunos, tais como seminários, debates, jogos, estudos de caso, demonstração, discussão, trabalho em grupo, palestrantes convidados e exercícios práticos podem ser utilizados de modo a tornar a aula mais interativa, produtiva e agradável para todos. A linguagem audiovisual da videoconferência Com a videoconferência, o professor tem a possibilidade de incluir a sua própria imagem e voz ao vivo. Pode também falar em off sobre imagens fixas (fotos, gráficos, desenhos), imagens em movimento (em vídeo ou multimídia) e imagens dos alunos nas salas remotas. As fontes de áudio e vídeo que podem ser utilizadas na videoconferência compõem uma narrativa que precisa ter um planejamento para ser mais eficiente. Isso não quer dizer que o professor tenha que se tornar um roteirista de TV, mas sim, que ele pode usar sua experiência como telespectador para imaginar os modos audiovisuais mais agradáveis de passar o conteúdo da sua disciplina. Isso significa começar a pensar não mais apenas em texto, mas também em sons e imagens.
Usando os recursos audiovisuais na videoconferência Os periféricos ou equipamentos audivisuais mais frequentemetne utilizados durante a aula por videoconferência são o computador (Internet e programas de apresentação), o videocassete e a câmera de documentos.
Ao começar a utilizar a videoconferência, o professor talvez experimente uma certa insegurança quanto ao manejo do equipamento. Mas com a prática, a tendência é que essas tarefas se tornem de tal forma automatizadas que vão permitir ao professor conjugar conteúdo e forma, num ritmo agradável. As experiências com a interatividade através da videoconferência mostram que, após um momento inicial de estranhamento, a tela da televisão como que "desaparece" e os participantes nem percebem mais que estão se comunicando por uma interface tecnológica. O importante é que o professor se preapre ao máximo para se sentir seguro, participe das oficinas oferecidas por sua instituição para se familiarizar com o equipamentoe com o novo ambiente didático. Teste seus materiais gráficos antes de começar as aulas. Uma boa dica é assistir as aulas de outros professores que já estão ensinando por videoconferência. E depois, conforme o curso vai seguindo, grave e assista suas aulas para perceber como melhorar o seu desempenho. Aproveite a experiência de seus colegas, troque informações com eles, tente ler sobre o assunto. Mas, principalmente, ouça seus alunos. Converse com eles, tente resolver os problemas que vão surgindo, buscando criar mecanismos de avaliação para que os estudantes se expressem e critiquem o processo que estão vivendo. O mais importante tente aprender com o que não dá cert. Não é precios ter vergonha de errar, pelo contrário, é fundamental utilizar os erros como fonte de humor e relaxamento. Faça experiências, mas sobretudo, lembre-se: na educação a distância por videoconferência, todos estão aprendendo. E juntos, alunos e professores vão criar uma nova maneira de ensinar e aprender. Por essa razão, o professor pode ficar tranquilo e deixar que a aula flua o mais natural possível, escolhendo a maneira mais adequada para o seu estilo pessoal e próprio de ensinar. CRUZ, D.M. Manual de videoconferência. Florianópolis. Laboratório de Ensino a Distância. UFSC, 1996 CRUZ, D.M. e BARCIA, R. A preparação de professores de engenharia para ensinar por videoconferência em cursos de pós-graduação a distância. XXVII Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia, 12-15/set, Natal, 1999. CRUZ, D.M. e MORAES, M. Manual de videoconferência. Florianópolis. Laboratório de Ensino a Distância. UFSC, 1997. CYRS, T. (Ed.). Teaching and Learning at a distance: what it takes to effectively design, deliver and evaluate programs in New directions for teaching and learning. San Francisco, Jossey-Bass Publishers, n.71, Fall, 1997. CYRS, T.E. e CONWAY, E.D. Teaching at a distance with the mergin technologis: an instructional systems approach. Las Cruces, New Mexico State University, 1997. DEMERS, Marie-Josée, et allii.
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